Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

As diferenças entre os 0 a 0

Há empates sem gols e empates sem gols. Em comum só o placar

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Messi tenta tirar a bola do goleiro Anthony Lopes durante o empate entre Lyon e Barcelona por 0 a 0 - Emmanuel Foudrot/Reuters

Os dois jogos de ida pelas oitavas de final da Liga dos Campeões, na terça-feira (19), terminaram sem gols. 

Ambos terminaram “oxo”, diria o célebre narrador da extinta TV Tupi, Walter Abrahão (1931-2011).
Dois porres, portanto, certo?

Nem tanto, nem tanto.

Em Lyon, na França, o Lyon chutou sete vezes contra a meta do Barcelona, apenas duas certas, uma delas parcialmente defendida pelo goleiro Ter Stegen e no travessão.

Já o time catalão finalizou nada menos que 30 vezes, com cinco acertos.

Aconteceu a raridade de Lionel Messi não estar numa jornada feliz, Luis Suárez estar mal mesmo e Dembélé com o pé torto.

Em Liverpool, na Inglaterra, não foi muito diferente no embate entre o Liverpool e o Bayern Munique.

Os ingleses atiraram 17 bolas contra Neuer que pegou as duas que foram no gol e o alemães nove, todas para fora.

Nem o brasileiro Roberto Firmino brilhou, nem muito menos o egípcio Mohamed Salah, algo para lá de inusual, assim como a atuação inusitada do alemão Robert Lewandowski.

Neuer, do Bayern de Munique, segura a bola observado por Sadio Mane, do Liverpool, durante jogo das oitavas de final da Liga dos Campeões - Action Images via Reuters

Algum problema em dizer que os dois jogos decepcionaram?

Nenhum.

O problema, se é que é um problema, é que não decepcionaram.

“Ah, lá vem o complexo de vira-latas”, objetarão a rara leitora e o raro leitor. “Fosse no Brasil...”.

Acontece que principalmente o jogo em Liverpool foi é muito bom, depois de primeiro tempo equilibrado e o segundo com clara supremacia dos anfitriões.

A eminência do gol esteve presente o tempo todo, apenas o gol faltou, aí sim, como um dia disse Carlos Alberto Parreira, como detalhe.

Nem mesmo os visitantes jogaram para defender o empate, em última análise bom resultado para quem fará a partida de volta em casa.

Também o Barcelona, mesmo fora de Camp Nou, em nenhum momento se conformou com o 0 a 0 e, certo de sua superioridade, buscou vencer até o fim.

Aí mora a diferença não apenas para os 0 a 0 daqui, como até para jogos com gols.

Quantas vezes temos visto um time ganhar por 1 a 0, por 2 a 0, depois de chutar apenas uma ou duas vezes a gol, às vezes em pênalti ou cobrança de falta? 

Nota dez para a eficácia, nota zero para a eficiência, a diferença sútil entre fazer a coisa certa, o gol, e fazer certo as coisas, jogar futebol. 

É disso que se trata aqui.

Tanto em Lyon quanto em Liverpool o torcedor não podia tirar os olhos do que acontecia no gramado, zero também de bocejos.

Acompanhar os dois jogos ao mesmo tempo foi difícil. 


A bola não parava, a trocação era permanente, a luta pela posse do balão incessante na Inglaterra, porque na França era do Barcelona e ponto final.

O Bayern ficou 51% do tempo com a redonda e o Barça 63% —os dois forasteiros a tiveram mais que os locais, sem chutões ou excesso de cruzamentos.

Não se faz aqui nenhuma louvação ao 0 a 0 embora tenha sido com um que o Brasil ganhou o tetra, em 1994, contra a Itália, nos Estados Unidos.

Naquela tarde de calor infernal, em 120 minutos de futebol pobre, se houve três chances de gol foi muito. 

Enorme decepção dos americanos que gostam de contagens altas e foram submetidos à tortura de um jogo às 12h30 no verão da Califórnia, 40°C à sombra, 45º no gramado, no Rose Bowl com 94 mil testemunhas de espetáculo tão ruim que adiou por bom tempo o interesse deles pelo soccer, tiro pela culatra da Fifa.

Definitivamente não foi o caso dos jogos pela Champions.

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