O Cabôco Assediadô resolveu sair atirando. E diz a verdade quando argumenta que não compraria um avião novo para a CBF se não tivesse a parceria do homem do dinheiro, Gilnei Botrel, lá posto pelo Marco Polo que não viaja e candidato dele para assumir a presidência.
Aliás, foi erro primário do ex-secretário-menor, o demitido camarada Feldman, não perceber a próxima jogada de Del Nero. Imaginou que pudesse ser ele o ungido, calou-se imperdoavelmente durante meses sobre os assédios e sentou-se no trono do coronel Nunes na fatídica derradeira reunião, para espanto, e revolta, dos oito vice-presidentes, que se sentiram traídos por não serem informados sobre a cafajestagem.
Um dos vices, que pede anonimato, argumenta candidamente que o papel de articulador político do ex-secretário se esgotava exatamente nisso, na política, embora nababescamente paga. Mas quis ir o sapateiro além dos sapatos e se deu mal, muito mal.
Marco Polo age depois de jogar ao mar o ex-braço esquerdo, porque o direito, Botrel, sempre cuidou além das finanças da entidade, mas, também, das dele.
O que nenhum dos dois imaginava era a revolta dos vices, que viram na crise a chance de tomar o poder, únicos candidatáveis no momento, segundo o estatuto, para cumprir o período restante do mandato do Cabôco.
Enquanto a insossa Cova América se desenrola em gramados indigentes por quatro cidades brasileiras assoladas pela Covid-19, e o número de infectados nas delegações se aproxima de uma centena, a fogueira de vaidades crepita nos corredores do edifício que abriga o barraco da CBF com vistas não apenas ao tempo que falta para o término da gestão, mas, principalmente, voltada para a eleição do ano que vem, quando qualquer um pode ser candidato, principalmente Botrel, segundo a vontade de Del Nero.
Em resumo, o quadro é este: o assediador não poderia comprar o jato sem as assinaturas do diretor financeiro, Botrel, e do diretor jurídico, Luis Felipe Santoro, ex-advogado do Corinthians nos tempos de Andrés Sánchez, que atua no momento com pretensões em dois campos, o da eleição na CBF e como eventual executivo da Liga de Clubes, com menor possibilidade.
Nada é de graça e jabuti não sobe na cerca do generoso pasto da vaca leiteira do futebol brasileiro.
João Havelange, o capo di tutti capi, teria vergonha de tanta lambança, e não porque fosse mais sofisticado, mas porque sabia se impor, embora tenha dado azar com o genro Ricardo Teixeira, dublê desastrado, hoje de volta ao jogo no vácuo de poder, apesar de ter que lidar com fio desencapado dentro de casa.
Aos clubes, ao fim e ao cabo, os que realmente importam para o torcedor brasileiro, resta apenas deixar o incêndio se alastrar e fragilizar cada vez mais a Casa Bandida, para poder criar a Liga e dar jeito no combalido futebol brasileiro.
O tema é maçante, repetitivo, aparentemente sem saída, há tantos anos, que infelicita a paciência nacional.
Não consola, ao contrário, mas, convenhamos, café pequeno diante da miséria ética, moral e política do espetáculo dantesco apresentado pelo quinteto da famiglia Bolsonaro e seus macaquinhos amestrados, como Osmar Terra, Eduardo Pazuello, Ricardo Salles et caterva.
Fica sempre a esperança ativa de que o Brasil seja maior que o abismo.
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