Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Tóquio 2020

Olimpílulas voleibolísticas históricas

Lembranças de Barcelona e Londres antes da luta pela medalha em Tóquio

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1992 — BARCELONA

O Brasil jamais havia conquistado uma medalha de ouro olímpica em esportes coletivos e nada indicava que ganharia em Barcelona. Ainda mais com o vôlei masculino em fase de renovação depois da chamada “geração de prata” ter batido na trave em Los Angeles, oito anos antes.

Até o técnico era muito novo, Zé Roberto Guimarães, à frente de Maurício, Marcelo Negrão, Tande, Giovane, Paulão, Pampa, Amauri, o capitão Carlão, entre outros.

Só que o time foi indo, foi indo, invicto, até chegar à semifinal contra os Estados Unidos, seleção responsável pela derrota na final em 1984.

Era muito, aparentemente era tudo, e, cá entre nós, estava de bom tamanho disputar o bronze. Afinal, Rússia, Cuba e Japão tinham sido derrotados pelo novo time brasileiro.

No ginásio de Montjuic lotado com mais americanos que brasileiros, aparece o diretor de cinema Spike Lee para torcer por sua seleção e, contagiado pela torcida verde e amarela com a toada “ai, ai, ai, em cima, embaixo, puxa e vai”, muda de lado, veste uma camiseta amarela e vê o Brasil virar para 3 a 1 o jogo que começou perdendo por 15 a 12, resultado que parecia botar as coisas em seus devidos lugares.

A final contra a alaranjada Holanda foi um baile, 3 a 0 sem sustos e a medalha de ouro inesperada que valeu desfile em carro do Corpo de Bombeiros na chegada a São Paulo.

Seleção brasileira surpreendeu em 1992 - Jorge Araújo - 1992/Folhapress

2012 — LONDRES

Zé Roberto Guimarães havia mudado de sexo. Em vez do sexteto masculino, o feminino, com o qual, em Pequim, quatro anos antes, tinha ganhado o ouro.

Portanto, o time que chegou à Inglaterra chegou para ser bicampeão, mas quase sofreu a humilhação de ser eliminado na fase de grupos, na qual ficou em derradeiro quarto lugar —e olhe lá.

Na derrota por 3 a 0 para a Coreia do Sul dava pena e preocupava o ar de impotência de Zé Roberto, a perplexidade daquelas grandes jogadoras, como se todas perguntassem umas para as outras o que estava acontecendo na quadra da Earls Court, um edifício erguido em 1937 no estilo art déco.

Pois Fabi, Fabiana, Jaqueline, Paula Pequeno, Sheilla e Thaísa, campeãs em 2008, mais Tandara, Fê Garay, enfim, todas, não estavam dispostas a trazer ofensa para casa e empreenderam uma reação sensacional até chegar à finalíssima contra as favoritas americanas.

Na fase de grupos, 3 a 1 para o sexteto do Tio Sam, que começou a decisão se impondo em 21 minutos, para não deixar pedra sobre pedra, ilusão alguma: 25 a 11.

O que as mulheres fizeram nos três sets seguintes está na história: sabe-se lá de onde, arrancaram forças que as transformaram em gigantes que arrasaram as rivais por 25/17, 25/20 e 25/17.

Brasileiras reagiram após um péssimo início em Londres - Ivan Alvarado - 11.ago.12/Reuters

Se seis meninas bicampeãs igualaram a façanha do superatleta do salto triplo, Adhemar Ferreira da Silva, um patrício naquela tarde, começo de noite, transformou-se no primeiro brasileiro tricampeão olímpico o Zé, mas não um Zé qualquer, José Roberto Guimarães.

Que está no Japão em busca do tetra.

Pedir a ele mais uma medalha de ouro é exigência descabida e, acreditem a rara leitora e o raro leitor, desnecessária.

Porque ninguém mais que ele a deseja e trabalha para isso.

Supersticioso, como estive na vitória em Barcelona, ao me ver em Londres pediu que eu fosse aos seus jogos.

Só não fui na derrota para os EUA e na vitória contra a Rússia, nas quartas.

Não estou na Tóquiovid-21, mas que ninguém se preocupe. Também não estive em Pequim.

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