Na final do Mundial de Clubes com maior número de gols em sua história desde 1960, oito —um para cada título do Real Madrid—, o que o 5 a 3 madridista sobre o saudita Al Hilal mostrou?
Mostrou os brasileiros Vinicius Junior e Michael espetaculares.
O primeiro, titular da equipe merengue, autor de dois gols, e o segundo, ao entrar no fim do jogo, capaz de entortar a defesa espanhola.
Dois jogadores que foram cedidos exatamente pelo Flamengo.
Porque a produção de talentos não cessa na terra em que se plantando tudo dá, mas a exportação de pé de obra também não para, como se fossem commodities.
Daí para a hegemonia europeia é um pulo que escolheu o time saudita como vítima.
Vítima que esteve para ser dizimada por goleada, mas que não se acovardou e exigiu atenção dos octocampeões mundiais para não complicar o que parecia fácil.
Para tanto foi inestimável, também, a colaboração do argentino Vietto, outro sul-americano a brilhar no Mundial. Como é uruguaio o craque Valverde, também autor de dois gols.
O outro gol, o do 3 a 1, foi do francês Benzema, que chegou recuperado em cima da hora da capital espanhola para a finalíssima —afinal, sabem a rara leitora e o raro leitor, que os europeus "não ligam para a o Mundial de Clubes", falácia repetida porque eles dão maior importância para a Champions.
Este pobre escriba dá mais valor ao Campeonato Brasileiro que à Libertadores, embora prefira o Mundial ao torneio continental, porque cada louco com sua mania.
No país em que o governador de Minas desconhece a existência de uma de suas maiores escritoras como Adélia Prado, não foram poucos os que se recusaram a ver a superioridade espanhola e lamentaram a chance brasileira perdida em enfrentar o time de Madri, como se fosse possível, enfim, vencê-lo.
Certamente dirão que, se o Al Hilal marcou três gols nos comandados de Carlo Ancelotti, a dupla Pedro e Gabigol se esbaldaria diante da defesa deles.
Claro que em futebol tudo é possível, e ainda mais num jogo só, mas enquanto, insistirmos no autoengano, será difícil reencontrar o caminho das vitórias.
Vini eleito o melhor em campo não é novidade para jogadores brasileiros, embora os dois últimos, por equipes nacionais, não por acaso, tenham sido Rogério Ceni e Cássio, dois goleiros.
Mengão de bronze
Quando o egípcio Al Ahly já vencia por 2 a 1, de virada, e havia perdido não só um pênalti como gol feito em contra-ataque, ter ficado com 10 contra 11 acabou decisivo para ser derrotado por inapeláveis 4 a 2 e entregar de bandeja o terceiro lugar no Mundial de Clubes da Fifa para o Flamengo.
Se o rubro-negro se queixa da expulsão rigorosa de Gerson na semifinal, também o Al Alhy tem razão para reclamar.
Não importa. Ou importa.
O que vale mesmo é registrar mais um jogo em que ficou claro o equilíbrio global, capaz de enterrar o pachequismo reinante no Patropi fantasiado de otimismo sem base sempre que o grande brasileiro encontra o desconhecido estrangeiro.
Graças a Alá, a Nação se livrou de nova decepção, e será bom se tiver aprendido a lição, uma porção de rimas pobres em busca da solução: faz tempo que deixamos de ser os maiorais, e, enquanto patinarmos em nossa mediocridade na gestão do futebol, a tendência será a de aprofundar o poço até chegar ao Japão. Que hoje, aliás, produz ótimos jogadores.
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