Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri

Se inveja matasse...

... o jornalista brasileiro que cobre futebol estaria morto devido à Premier League

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Pegue a última rodada do Paulistinha que definiu mandantes das quartas de final, classificados para estas e os dois rebaixados.

Negar que produziu emoções seria injusto e mentiroso.

Santistas sofreram com a terceira eliminação seguida, são-paulinos foram à loucura com o jogo em Ribeirão Preto, corintianos, de camarote, secaram os rivais tricolores, e dois clubes tradicionais caíram para a segundona, o São Bento e a Ferroviária.

Gakpo comemora com Robertson um de seus gols na goleada do Liverpool contra o Manchester United por 7 a 0, neste domingo (5)
Gakpo comemora com Robertson um de seus gols na goleada do Liverpool contra o Manchester United por 7 a 0, neste domingo (5) - Paul Ellis/AFP

Compare com o sábado e o domingo do Campeonato Inglês, a luxuosa Premier League.

O vice-líder Manchester City recebeu o sexto colocado Newcastle e venceu como estava previsto, por 2 a 0. Com o que ficou a dois pontos do Arsenal, que luta para sair de 19 anos de fila.

O líder londrino, em casa, enfrentou o lanterna Bournemouth e também ganhou, mas não como estava previsto. Muitíssimo ao contrário.

Tomou 2 a 0 e viu o futuro em caco, até por ainda não ter enfrentado o City pelo segundo turno, e em Manchester.

Como um torniquete, marcou 1 a 2 aos 16 minutos e empatou oito minutos depois, gol registrado pelo censor na linha do gol, que vibra no relógio do árbitro e explode a torcida.

O empate evitava a catástrofe, mas o Arsenal permanecia alcançável pelo time de Pep Guardiola, De Bruyne e Haaland.

Então, aos 97 minutos, em chute de rara felicidade de pé esquerdo, de três dedos, na lateral da rede, Nelson, que saiu do banco, deu a vitória aos líderes outra vez cinco pontos à frente.

Estava de bom tamanho para quem torcia pelo Arsenal, para quem secava, para quem apenas se divertia e até para os guardiolistas, espécie espalhada, principalmente entre jornalistas, porque, afinal, cultuam a beleza do futebol e poucas situações são tão belas como viradas épicas.

E teria mais, muito mais, para deixar quem cobre futebol pelo Patropi afora mortinho de inveja.

O domingo reservou o 211º e maior clássico da Grã-Bretanha, entre Liverpool e Manchester United, nascido em 1894.

Ambos disputam a vida inteira quem é maior: o United, 20 vezes campeão inglês, três vezes campeão europeu e duas vezes mundial, ou o Liverpool, 19, seis e uma?

Os de Manchester não têm dúvida, mas os de Liverpool dizem que os Beatles desempatam a favor deles, como se futebol e música tivessem alguma coisa a ver. E não é que têm? Muito!

Placares humilhantes entre os dois só haviam acontecido quatro vezes: 7 a 1 para o Liverpool, em 1895; 6 a 1 para o United, em 1928, e dois 5 a 0, um para cada lado, o do United em 1947 e o do Liverpool em 2021.

O jogo deste domingo confirmaria o United ainda como pretendente ao título, em terceiro lugar, e a busca desesperada dos Reds para ficar entre os quatro e garantir lugar na Liga dos Campeões.

O mínimo que se esperava era o máximo que se esperava: um clássico equilibrado e a expectativa se confirmou no primeiro tempo, com solitário gol do Liverpool, aos 43 minutos.

Então, o estádio de Anfield viu os anfitriões como se estivessem no Mineirão.

Foram nada menos que seis gols nos 45 minutos finais, aos 47, 50, 66, 75, 83 e 89. Um espanto!

O que explica uma coisa dessas?

Digam o que disserem os jornalistas, não se explica.

Nem os vitoriosos sabem, perplexos como os derrotados.

O que se sabe, e se inveja, é o privilégio dos jornalistas ingleses de testemunharem os jogos que fazem do campeonato deles algo único.

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