Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu Campeonato Brasileiro

Por todos os Santos

Pelos Santos de Feitiço a Neymar, e pelo melhor da história, o do Rei Pelé

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Era a década de 1920, e o centroavante Feitiço compunha o ataque dos cem gols do Santos, ao lado de Araken, este campeão paulista, o primeiro título dos praianos, em 1935.

Feitiço, por seis vezes, três em seguida, foi artilheiro do campeonato estadual, marca só superada por Ele, o Rei.

A história salta para duas décadas depois, quando vem a segunda taça, com Pepe no ataque, o segundo maior artilheiro da história santista, atrás apenas Dele, o Rei.

Pepe mesmo se considera, com razão, o maior goleador do clube da "Vila mais famosa do mundo", porque o Rei seria de outro planeta.

Pelé, ao lado dos companheiros Pepe e Coutinho - José Dias Herrera/Santos FC/Divulgação

Daí para a frente, a saga é mais conhecida. Em 1956, o Santos repete o feito, é tri, com craques como Jair Rosa Pinto, Pagão e Pepe.

A partir de 1957, o Rei surge para estabelecer a maior hegemonia de um time brasileiro em todos os tempos, campeão de tudo, bicampeão mundial, tão marcante que até hoje o Santos é o clube nacional mais conhecido mundialmente.

De épocas recentes, desnecessário lembrar Diego e Robinho (este é melhor esquecer mesmo), campeões brasileiros de 2002.

Ou Ganso e Neymar, tricampeões continentais em 2011, para não falar dos Meninos da Vila —Juary, Pita, João Paulo e Nilton Batata, campeões paulistas de 1978.

Sim, sabem a rara leitora e o raro leitor o que vem a seguir.

Lamentações, lamentações e lamentações.

Não há nem pode haver quem cultue o futebol transformado em arte pura que não esteja angustiado diante da possibilidade, com ares de inevitabilidade, da primeira queda para a Série B do Campeonato Brasileiro.

Não que seja o fim do mundo, tantos são os casos de rebaixamento de grandes que ressurgiram —às vezes até exatamente porque caíram e tomaram tento.

Nem por isso deixa de ser triste olhar para a derrocada na Vila Belmiro.

Querem os deuses dos estádios pregar tamanha peça só porque o Rei não tem ido mais à Vila, embora paire sobre todos os estádios do mundo?

Ou é sinal do cuidado deles, como se o tivessem poupado da dor nos últimos anos, tantas vezes a queda bateu na trave?

Culpar a atual gestão será o mais fácil, mesmo que tenha ido muito mal na administração do futebol, insegura ao trocar de técnicos como se troca de camisas, embora correta do ponto de vista financeiro, sem o que jamais haverá solução autossustentável. Mais responsáveis foram os irresponsáveis que a precederam, autores da razia que abateu o Santos.

Pense no perrengue que estão passando dez (a camisa do Rei) queridos torcedores santistas: Débora Bloch, Eduardo Suplicy, Emicida, Faustão, de coração novo (viva!) e já sofrido, José Roberto Torero, Mano Brown, Paulo Miklos, Robert Scheidt, Xico Sá e Zeca Baleiro.

É triste olhar para a derrocada na Vila Belmiro - Adriano Vizoni - 29.jun.23/Folhapress

Matematicamente, a situação é difícil, daquelas em que não se safa numa rodada, mas o problema nem é esse.

A questão está no peso da camisa que um dia assombrou o Planeta Bola. Aquelas camisas brancas…

Quando o time que as enverga —no sentido de vestir em vez de dobrar-se— entra no pântano, o mais comum é afundar.

O pior é que você olha para o grupo e não vê ninguém com o poder de liderar a reação.

Difícil encontrar alguém vivo que tenha visto de Feitiço, na terceira década do século passado, ao canto do cisne, ou do Ganso, na segunda deste.

Quem viu, dos anos 1950 para cá, há de estar aflito com o risco que corre o melhor DNA do futebol pentacampeão mundial.

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