Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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A hipocrisia sem fim do Comitê Olímpico Internacional

Punir a Rússia por invasão e não punir EUA e Israel revela cínica parcialidade

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A abertura dos 33º Jogos Olímpicos, em Paris, dia 26 de julho, tem tudo para ser a mais espetacular de todos os tempos, a primeira fora de estádio, às margens do Sena e para cerca de 600 mil pessoas poderem vê-la de perto.

Aberturas e encerramentos olímpicos em regra são comoventes.

No Maracanã foram, como em Barcelona e em Londres, como em Moscou e a lágrima do urso Misha.

Pena que também frequentemente encobrem as misérias humanas, as guerras, as atrocidades, os genocídios, o racismo, que seguem impávidos enquanto os Jogos se desenrolam em nome da paz entre os povos.

Neste 2024 não será diferente.

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Área de Kupiansk atingida por ataques russos na Ucrânia - Yan Boechat/Folhapress


Atletas russos, desde que não tenham servido o Exército recentemente, poderão competir sem os uniformes de seu país e não ouvirão o hino caso ganhem o ouro.

Punição mínima à Rússia pela invasão na Ucrânia e que chega ao extremos de castigar quem, obrigado, foi à guerra.

Sem coragem de proibir a presença do gigante russo, o COI achou uma meia punição.

Israel, porém, não está sujeito a sanção alguma pelas barbaridades que comete em Gaza.

Como os Estados Unidos, o país mais intervencionista do planeta desde o século passado, jamais sofreu punição alguma.

Por que o que vale para uns não vale para outros no Comitê Olímpico Internacional?

Porque aos mais ricos, tudo, além de os EUA estarem às portas de sediar os Jogos Olímpicos de Verão de 2028, em Los Angeles, de novo, como em 1932 e 1984, e os de Inverno de 2034, em Salt Lake City, outra vez, como em 2002 —aliás marcado pelo maior escândalo de corrupção pela compra de votos da história dos Jogos, sob sol ou neve.

O COI faz de tênis aquilo que a Fifa faz de chuteiras.

Seus cartolas também são capazes de tirar as meias sem tirar os calçados e, quando se trata de curtir mordomias ou de dizer que esporte e política não se misturam, vão ao lugar mais alto do pódio da impostura.

Bandeiras do COI e da Rússia nos Jogos de Inverno de Sochi, em 2014 - Yuri Kadobnov/AFP

Aliás, é curioso. Bolsonaristas dizem o mesmo e calam diante do mito com a camisa da CBF e de todos os clubes possíveis e imagináveis.

Voltemos aos hipócritas e cínicos do COI, lembrando que seu presidente, o alemão e ex-esgrimista Thomas Bach, escafedeu-se do Brasil em 2016 e não esteve no fechamento dos Jogos Paralímpicos no Rio para fugir do inquérito sobre venda ilegal de ingressos para o evento.

Paris vale bem uma missa e nos emocionará como nunca porque, neste mundo repleto de malucos genocidas, existe quem é capaz de exercer o poder do esquecimento fugaz para comemorar uma vitória esportiva.

Que os barões olímpicos, contudo, saibam que o Comitê Olímpico Palestino, mais cedo ou mais tarde, cobrará pelo crime cometido e associará o COI ao massacre de crianças e mulheres em Gaza enquanto medalhas de bronze, prata e ouro estamparão os peitos orgulhosos dos vencedores.

Porque de duas, uma: ou os Jogos Olímpicos são um evento à parte, quase em realidade paralela, e todos podem participar independentemente do que façam os governantes de cada participante, ou, em nome da paz, quem vive de fazer e estimular as guerras precisa ser proibido de competir.

Houve época em que Alemanha e Japão foram excluídos dos Jogos —Londres, em 1948. Como a África do Sul também foi em sete edições a partir de 1964, por causa do apartheid.

Qualquer semelhança com os dias de hoje não é mera coincidência.

E, no entanto, nada se move.

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