Juca Kfouri

Jornalista, autor de “Confesso que Perdi”. É formado em ciências sociais pela USP.

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Juca Kfouri
Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Como falar de bola numa hora dessas?

O morticínio na Faixa de Gaza deveria impor que falássemos apenas do cessar-fogo

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O Campeonato Brasileiro está incandescente, entra na reta final das dez rodadas, com brechas para Bragantino e Flamengo ameaçarem o quase campeão Botafogo e com tremendo pega para capar na zona do rebaixamento.

De quebra, neste sábado (28) o Fortaleza disputa a decisão da Copa Sul-Americana contra os equatorianos da LDU e se aproxima a final sensacional da Libertadores entre Fluminense e Boca Juniors, dia 4 de novembro, no Maracanã.

Jogadores do Fluminense comemoram gol no empate em 3 a 3 com o Corinthians, no Maracanã - Ricardo Moraes - 19.out.23/Reuters


Futebol é o que não falta para nos divertir, distrair, fazer sofrer e festejar.

Enquanto isso, no Oriente Médio, tome bomba na cabeça!

E na Ucrânia, na Síria, no Iêmen, entre Azerbaijão e Armênia em Nagorno-Karabakh, pelo mundo afora.

Guerras não faltam para nos horrorizar e mesmo assim seguimos porque, afinal, até nossas guerras particulares costumam ocorrer, mais longe, nas periferias das grandes cidades.

Para nos afetar, têm de atingir um de nós, porque a adolescente morta na escola em Sapopemba está 30 quilômetros distante do Morumbi.

E por falar em Morumbi? Como se chamava mesmo o torcedor são-paulino que foi morto pela PM? E a torcedora do Palmeiras assassinada na porta do estádio?

O que importam Rafael e Gabriela num estado cujo governador usa prendedor de gravata em forma de metralhadora?

Sim, falamos de São Paulo, de Tarcísio.

A estupidez das guerras tem a indústria armamentista por trás e é alimentada por quem vota nos adeptos das pistolas.

O planeta enlouqueceu a tal ponto que mesmo depois de Adolf, nem faz um século ainda, 30% dos argentinos são capazes de votar em quem se inspira num cachorro.

Poupemos a rara leitora e o raro leitor de trazer absurdo semelhante para lugar mais próximo e lembremos apenas do que aconteceu no dia 6 de janeiro de 2021, no Capitólio.

Será que diante da falta de limites para a insanidade (apud Geraldo Mayrink) o que resta é disfarçar a impotência e torcer para o time da gente ser campeão ou, ao menos, escapar do rebaixamento?

Já esquecemos as crianças, mulheres e idosos friamente assassinados pelo Hamas? Normalizamos os bombardeios sobre milhares de civis na Faixa de Gaza? Os esquálidos palestinos comovem menos que os loirinhos ucranianos?

Tantas perguntas sem respostas, apenas indignação, assombros, angústias e… vida que segue.

Cretinos específicos transformam genocídio e apartheid como se fosse um Fla-Flu, a turma da grana pensa com o bolso e blinda o coração, além de suas máquinas e condomínios.

Na Cidade Maravilhosa, dezenas de ônibus são queimados para vingar a morte de miliciano e fazer mais pesado o dia a dia dos que dependem, a maioria, de transporte público.

Como seria se fosse Cidade Pavorosa?

"Ora, ora, senhor jornalista! Depois de tantos anos, 53 de ofício, 73 de vida, ainda esse papinho ingênuo, quando é que vai amadurecer e se tocar que o mundo é assim desde que é mundo e não serão seus desejos e perplexidades que o transformarão?"

É, pode ser. Aliás, deve ser.

Será que o Fortaleza ganhará o primeiro título internacional?

E o Corinthians, escapará da Série B? O Santos? O Vasco?

Bragantino e Flamengo têm mesmo chances de ameaçar o Botafogo?

Ainda bem que começou a temporada da NBA para nos confortar também pelas madrugadas.

"Mundo, mundo, vasto mundo/ Se eu me chamasse Raimundo/
Seria uma rima, não seria uma solução" (Drummond).

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