Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer

É possível protestar contra o Instagram... pelo Instagram?

O que você pode fazer para não ficar refém das big tech

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Em "Matrix", os habitantes da Terra vivem —sem saber— em uma realidade virtual criada por computadores. Isso acontece para que inteligências artificiais se alimentem com a energia elétrica extraída dos humanos.


Hoje é quase automático interpretar essa obra de ficção como uma profecia. Bilhões de pessoas vivem com a atenção sugada por serviços como Instagram e TikTok. Mas quando "Matrix" foi lançado, em 1999, a internet era o contrário disso: um refúgio para inconformistas debaterem assuntos que, por vários motivos, não cabiam nas TVs e nos jornais.

Nos anos 1960, poucos governos e organizações de grande porte podiam comprar computadores. A Arpanet, a "avó da internet", foi um projeto do Departamento de Estado dos EUA criado para proteger dados estratégicos do país. Essa rede servia para as informações de um computador serem distribuídas entre outros em caso de um ataque por mísseis.

Um dia, início dos anos 1970, um engenheiro instalou um programa para a troca de mensagens no sistema da Arpanet. Originalmente ele servia para a comunicação entre pessoas que usavam a mesma máquina em turnos diferentes, mas, a partir da rede, esse serviço permitiu que grupos de pessoas em lugares diferentes trocassem mensagens. Sim, a internet não foi inventada, ela aconteceu.

O princípio de redes sociais e aplicativos de mensagens é o mesmo do mural online da Arpanet: facilitar a comunicação entre pessoas com interesses em comum. Mas, com a abertura da internet para uso comercial, nos anos 1990, as chamadas big techs gradualmente monopolizaram esse ambiente de convívio e de debate público.

A ilustração de Ariel Severino mostra um homem, de terno e gravata, imerso até a cintura no mar. No lugar da cabeça, um celular com imagem de fogo na tela. Nas mãos uma vara de pesca com quatro linhas. As iscas nos anzóis são quatro celulares com a mesma imagem de fogo. Duas grandes ondas à esquerda o ameaçam. Voando em volta do homem algumas traças.
Ariel Severino

Eu acompanho o tema do abuso de poder dessas empresas há muitos anos, mas senti isso na pele quando Alphabet (Google), Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp) e Telegram usaram seu acesso privilegiado a milhões de brasileiros para defender interesses privados. Elas não querem ser reguladas e, portanto, promovem a ideia de que regulamentação é censura.

O problema real não é só que empresas podem falar com milhões de pessoas. Dependemos delas para protestar contra elas. Por exemplo, se você leu este artigo na internet, você o leu primeiro pela rede social ou pelo site do jornal? Se eles decidirem, por mecanismos silenciosos, regular o alcance da minha voz: game over.

Essa batalha não é só entre governos e corporações. Há alternativas para você proteger conversas privadas e não alimentar algoritmos que usam seus dados para promover agendas que, em geral, você mesmo desconhece.

O melhor de todos é o Signal, recomendado pelo programador e ativista Edward Snowden. É idêntico ao WhatsApp e ao Telegram, mas infinitamente mais seguro.

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