Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer
Descrição de chapéu LGBTQIA+

A caminhada da fé e da diversidade

Aos 17, Gabs passou a frequentar uma igreja evangélica inclusiva para pessoas LGBT

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Valdinei Ferreira, pastor e sociólogo, propôs que eu escrevesse sobre pessoas que participam simultaneamente da Marcha para Jesus e da Parada Gay, eventos que ocorrem no mesmo feriado. Conversei com Bob Botelho, fundador do Evangélicxs pela Diversidade, que me indicou Gabs Lima, teóloga, psicanalista e pastora do coletivo Conecte. Gabs, pessoa não binária, frequentou ambos os eventos em um período de sua vida.

Gabs foi apresentado/a à igreja evangélica pela avó quando ainda era conhecido/a como Gabriel. Desde cedo, experiências místicas despertaram nele fortes emoções, como quando, aos 7 anos, uma participante da igreja profetizou que ele/a espalharia a mensagem divina pelo mundo como o anjo Gabriel fez.

Motivado/a por essas experiências, Gabs se entregou fervorosamente à igreja, encontrando lá felicidade e propósito, mas também reprimindo sua identidade LGBT que começava a aflorar. Essa dedicação permitiu que Gabs ingressasse no seminário teológico precocemente, aos 14 anos. Ao mesmo tempo, orava pedindo a própria morte para resolver o conflito entre sua sexualidade e a fé.

Aos 17 anos, tudo mudou. Gabs passou a frequentar uma igreja inclusiva para pessoas LGBT e a estudar textos que condenam gays e lésbicas, denominados de "textos do terror" pela teologia afirmativa. Foi nessa época que Gabs participou simultaneamente da Marcha para Jesus e da Parada LGBT.

Mas essa experiência de ir à marcha e à parada explicitou o estranhamento que Gabs vinha sentindo na igreja inclusiva. Durante a marcha, os participantes de sua igreja ocultavam a própria sexualidade por medo de violência. Na parada, eles formavam grupos para policiarem uns aos outros contra as "tentações carnais".

Gabs explica que o esforço de criar igrejas inclusivas em uma época de perseguição à comunidade LGBT resultou em espaços que ainda carregam traços de teologias que ele/a chama de fundamentalistas.

Aqueles que vão à parada o fazem apenas para "saquear o inferno", ou seja, salvar almas, e reproduzem tabus das igrejas convencionais, condenando relações sexuais fora do casamento e atacando religiões de matriz africana. Também evitam confrontos políticos diretos com as igrejas tradicionais quando estas atacam direitos conquistados pela comunidade LGBT.

Atualmente, Gabs abriu mão de frequentar a Marcha para Jesus, principalmente por causa da aproximação entre muitas igrejas e o bolsonarismo. Não é um espaço seguro para se apresentar como pessoa LGBT. Gabs celebra seus cristianismo hoje na parada, onde agradece a Deus pela diversidade, pela vida e por entender que é ali que defende seus direitos, inclusive o direito à fé.

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