Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer
Descrição de chapéu Congresso Nacional

Líderes evangélicos vão abandonar Bolsonaro?

Sucessor não será nem Tarcísio, bom moço, nem Michelle, inexperiente, nem Nikolas, caricato

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"A extrema direita religiosa pode até desistir de Bolsonaro por considerar que ele não é mais útil, mas não recuará em seu (próprio) projeto de poder", afirmou um interlocutor. "Muito pelo contrário: ela dobrará sua aposta na defesa da ideia de que é incompatível ser cristão e ser de esquerda."

Me pergunto: isso é profecia ou alarmismo? A tática é mesmo continuar radicalizando o debate para eliminar as alternativas de voto para evangélicos ao centro? E quem substituiria o ex-presidente?
Bolsonaro já não controla a máquina pública para fortalecer alianças. E os escândalos que o acompanham, principalmente desde o 8 de Janeiro, afastaram muitos evangélicos do debate sobre política. Mas, para a maioria dos pastores e acadêmicos que ouvi sobre esse tema, a relação entre evangélicos e o ex-presidente está longe de acabar.

O pastor e sociólogo Valdinei Ferreira tem uma teoria sobre por que Bolsonaro tem um papel importante para líderes evangélicos. "Acho que ele cumpre, a partir da referência bíblica, o papel do rei malvado. É o personagem que não professa a nossa fé. Faz as maldades que nós aprovamos, mas não pagamos a conta por isso porque ele não é filiado à nossa religião."

Bolsonaro faz pose de arma na Marcha para Jesus de 2019
Bolsonaro faz pose de arma na Marcha para Jesus de 2019 - Redes sociais

Há também outro motivo: quem olha o fenômeno de fora não percebe como este é um campo complexo e tensionado, com visões de mundo diferentes e disputas por espaço. "Bolsonaro produziu uma aliança no campo conservador que dificilmente será recriada em outro arranjo", analisa o antropólogo Rodrigo Toniol, da UFRJ.

Mas as igrejas fizeram tanta força para promover Bolsonaro em 2022 que as diferenças entre denominações ficaram mais explícitas. "Eu estou de ressaca de ser comparado a neopentecostais", desabafou um pastor de uma igreja histórica. "Estou aliviado por achar que o novo governo é só incompetente e não vai armar as pessoas."

Apesar dessas fraturas entre conservadores, o nome de Deltan Dallagnol não sai da cabeça da cientista política Carla Ribeiro Sales, que, como o ex-deputado, é batista. Para ela, Dallagnol é quem parece ter mais condições de ocupar o lugar de Bolsonaro entre evangélicos.

Dallagnol ainda precisará da bênção do ex-presidente para seguir adiante. "Mas ele é um evangélico raiz, é de uma igreja batista respeitada na denominação e tem muito mais ‘traquejo bíblico’ que qualquer outro nome da atualidade."

Nem Tarcísio, bom moço, nem Michelle, inexperiente, nem Nikolas, caricato demais, podem ocupar o lugar de Bolsonaro. Dallagnol parece carta fora do baralho, mas reúne três símbolos poderosos: a identidade evangélica, o discurso antissistema da Lava Jato e o elemento combativo do bolsonarismo.

Isso é novo.

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