Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

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Juliano Spyer

O que Nikolas Ferreira ensina sobre jovens periféricos?

A esquerda deveria estudar o deputado em vez de cair em suas provocações

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Algumas dezenas de estudantes se comprimem para abraçar, tietar e fazer selfies com o deputado Nikolas Ferreira. Essa foi a notícia principal do evento no Palácio do Planalto, na semana passada, para anunciar a abertura de novos institutos federais. "Nikolas hackeou o evento", analisou o antropólogo da UFRJ Rodrigo Toniol. "Ele fez os holofotes da mídia se virarem para ele e desarmou todo mundo ao aparecer em uma cerimônia do governo."

Para alguns leitores do jornal, Nikolas Ferreira talvez seja apenas um "moleque", como expressou a também deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ), durante uma altercação com ele no Congresso. Mas, ao dizer assim, nós fugimos da responsabilidade de lidar com um dos herdeiros do bolsonarismo, à frente dos filhos do ex-presidente.

E como Nikolas, o deputado mais votado do país, se tornou uma das vozes que influenciam o debate político entre jovens, independente da orientação ideológica?

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Nikolas Ferreira em ato na avenida Paulista em defesa de Bolsonaro - Bruno Santos/Folhapress

Nikolas não é novidade para sua audiência. Os interlocutores com quem eu conversei sobre esse tema já o acompanham desde antes de ele chegar a Brasília. "Eu vi o vídeo dele na página principal do YouTube", me contou uma jovem mãe evangélica da periferia de Salvador. "Ele faz muitos vídeos curtos, explicando coisas como a relação entre a Bíblia e a política."

Outro trunfo do jovem deputado: ele vem da favela e não fez disso uma bandeira. "Ele é alguém que veio do nada e pôs os neurônios para funcionar", complementa a mesma interlocutora. "Ele está em uma bancada, literalmente todo mundo está contra ele e ele consegue se manter aceso, manter a postura e defender o ponto de vista dele."

O pastor Guilherme de Carvalho é de Belo Horizonte, trabalhou no ministério comandado pela hoje senadora Damares Alves e, a meu pedido, consultou outros líderes sobre o motivo do apelo de Nikolas.

Um deles respondeu: "Jovens estão cansados de uma cultura de incertezas" em relação, por exemplo, a temas como gênero e sexualidade. "Eles buscam gente que diga o que é certo, sem reservas." Para outro, Nikolas "incorpora os princípios do bolsonarismo sem rodeios e comunica uma imagem de jovem corajoso, politicamente incorreto, que põe o dedo nas feridas da esquerda".

A esquerda precisa estudar Nikolas para além da forma como ele usa a internet. Filho de pastor, retórica é uma disciplina acessível a ele desde cedo. Ele também encapsula valores e sonhos de superação de muitos jovens periféricos hoje. Em um contexto em que as esquerdas vêm envelhecendo e se distanciando do Brasil real, Nikolas já está trazendo outros jovens para a política.

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