Juliano Spyer

Antropólogo, autor de "Povo de Deus" (Geração 2020), criador do Observatório Evangélico e sócio da consultoria Nosotros

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Juliano Spyer
Descrição de chapéu LGBTQIA+

É possível olhar para evangélicos sem filtros ou preconceitos?

Série na GNT registra intimidade de seis famílias e resiste à tentação de explicar ou acusar

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O documentarista Alberto Renault desafiou a si mesmo ao conceber a série "Evangélicos", que estreia na GNT em abril.

Homem gay sem interesse particular por religião, ele desejava registrar a intimidade de famílias evangélicas como um observador invisível. E quis fazer isso sem recorrer a estereótipos, o que é difícil hoje, considerando a associação entre evangélicos e bolsonarismo. (Para ser transparente, informo aos leitores que atuei como consultor nesse projeto).

Produzir a série envolveu outros desafios: Alberto quis ter personagens em diferentes estados, a fim de retratar o fenômeno para além de São Paulo e Rio. E desejava que cada episódio incluísse uma celebração, para mostrar as vidas dos participantes enquanto se preparam para um evento assim.

Homem lê livro sentado no sofá
Cena da série 'Evangélicos', de Alberto Renault - Alberto Renault

Alberto também tinha clareza sobre o que não queria fazer. Ele não queria produzir uma série sociológica na qual especialistas dissecam esse grupo religioso como algo exótico. Também não pretendia fazer reportagens jornalísticas para expor escândalos envolvendo igrejas ou pastores. Em resumo, buscou —e conseguiu— evitar que a politização em torno do debate sobre religião no Brasil contaminasse a experiência da audiência. Em vez disso, ele nos oferece uma janela para as vidas de evangélicos comuns.

Trabalhei liderando uma equipe de dois pesquisadores evangélicos para encontrar esses personagens e posso afirmar que Alberto se manteve teimosamente determinado a evitar soluções fáceis. Por exemplo, ele rejeitou a possibilidade de contar a história de dois ex-moradores de rua de Belo Horizonte, negros, que se converteram, superaram a dependência de substâncias e se casaram. Em vez disso, o evangélico negro retratado é alguém com uma história menos óbvia: ele descobriu seu talento musical na igreja e, apesar de sua pouca experiência como ator, tornou-se protagonista de um musical sobre o líder antirracista Martin Luther King.

Por ter acompanhado o projeto, assisti a dois episódios quase finalizados. Sem ser um produto educativo convencional, a série também cumpre essa função. Ela apresenta personagens que podem ser descritos como "típicos", mas que têm experiências de vida, práticas religiosas e visões de mundo muito diferentes entre si.

E esse mergulho na rotina de evangélicos leva a audiência a conhecer por dentro suas igrejas, desde as históricas, com seus cultos formais e intelectualizados, passando pela exuberância do pentecostalismo popular, até chegar às novas denominações que desafiam classificações convencionais.

A aposta pode desagradar a gregos e troianos ou, desafiando a polarização, atrair ambos. A conferir.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.