Acompanho com curiosidade os movimentos que transformam os Jogos Olímpicos.
Isso porque em mais de um século de existência, poucas foram as alterações no programa e na política.
Não digo que elas não tenham ocorrido, mas em um período histórico onde tanta coisa aconteceu é difícil imaginar o quão pouco o movimento olímpico mudou e quanto tempo isso demorou.
A começar com a inclusão das mulheres. Impedidas de participar na primeira edição em 1896, porque eram "frágeis dos nervos" guerreiras de todo o mundo, a seu modo e a seu tempo, participaram de uma frente de resistência que dura até o presente. Basta lembrar que a prova feminina dos 800 metros no atletismo foi retirada do programa em 1928 e só retornou em 1960. Sem contar a maratona feminina que foi incluída nos Jogos de Los Angeles de 1984, depois que mulheres correram disfarçadas em provas masculinas. Não posso deixar de citar ainda o salto com vara que só chegou aos Jogos Olímpicos em 2000 e o boxe feminino em 2012.
Atento aos ventos que sopram de diferentes partes do mundo o movimento olímpico parece estar mais sensível aos fatos do presente.
Da maior inclusão das mulheres, passando pelo combate à corrupção até o empoderamento dos atletas, o discurso olímpico sofreu uma alteração radical nos últimos anos. Claro está que o "negócio" olímpico precisa fazer a roda girar. E para que isso aconteça é necessário acompanhar novas tendências e discursos.
Os Jogos da Juventude mostram isso. Usado como um balão de ensaio para testar novas tendências há ali uma demonstração do que se enxerga para o futuro. A inclusão de atividades culturais, aliás, como já foi nos Jogos do passado. O incremento de times mistos. A abertura dos eventos para a cidade e para a sociedade, retirando parte das atividades de estádios e ginásios fechados e alocando-os em espaços públicos.
Sem dúvida isso representa um momento de virada.
As modalidades de aventura e de contato com a natureza também fazem parte desse movimento. A juventude é o público mais desejado do movimento olímpico. Os jovens trazem a irreverência e a ousadia de um tipo de competição desejada, porém, não muito conhecida dessa estrutura secular.
A resistência que envolveu a inclusão do skate e do surfe se volta agora para os esportes eletrônicos.
Considerados por muitos como uma diversão e não uma competição eles estão por toda a parte.
Telefones, tablets, TVs, computadores, ou seja, em todos os equipamentos fundamentais para pessoas que saíram das cavernas.
Estou certa que esse é um tema controverso. Por isso tenho dedicado parte do meu tempo a estudá-lo.
Recentemente participei do 1º Congresso Brasileiro de Esportes Eletrônicos, em Lavras (MG), onde um grupo se dedica a estudar esse fenômeno. Lá pude presenciar a seriedade com que o tema é tratado. É evidente a especificidade desse campo. E aí estão os maiores desafios para o esporte.
Nessa modalidade cai por terra a necessidade de times constituídos por nações, base da estrutura do movimento olímpico.
Não bastasse isso, o poder de estruturação dos jogos e organização de campeonatos não está nas mãos do sistema de federações e confederações, e sim das empresas que os desenvolvem. Isso por si só representa uma revolução no sistema olímpico.
Resta ainda a discussão sobre o eSport ser ou não ser esporte. Como tantas outras modalidades, só o tempo, e os interesses, dirão. O Oriente já mostra os caminhos.
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