Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

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Katia Rubio

Respeito e direito baterão à porta das instituições esportivas em 2019

Ambas questões caminham juntas. E essa é uma resolução de ano novo muito esperada

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A jogadora Tiffany Abreu foi a primeira transexual a disputar um jogo da Superliga Feminina de Vôlei
A jogadora Tiffany Abreu foi a primeira transexual a disputar um jogo da Superliga Feminina de Vôlei - Nelson Almeida/AFP

Essa é uma época em que arrependidos de uma forma geral costumam buscar redenção das faltas prometendo o possível e o que não se pode cumprir. Perder peso parece estar no topo das listas, femininas e masculinas. Deixar de procrastinar tem também ganhado destaque entre jovens e adultos.

Infelizmente vejo que itens básicos à convivência continuam no rodapé de documentos lavrados em cartório ou guardados debaixo do colchão. Entre os itens de menor citação está o respeito. Palavra de fácil pronúncia e difícil execução, é também considerado um valor olímpico.

Respeito, quando entendido como valor universal, promove a mediação da convivência, tão necessária quando se compartilha espaço material ou social.

E o esporte é isso. Um campo de convivência. E ouso afirmar, não apenas dos habilidosos, porque a vivência do movimento prazeroso é acima de tudo uma experiência estética, para quem pratica e para quem assiste. Respeito e prazer. Respeito com prazer ou ainda respeito por prazer. Imaginem o esporte feito com essa perspectiva. Fosse assim, velhos temas da história do esporte não seriam tratados como novidade. E 2018 seria um ano como outro qualquer. Mas, não.

O patriarcalismo desrespeitoso que vigora no esporte olímpico por mais de um século tenta entrar em uma roupa justa para parecer 'slim'. Se no princípio do século passado o desafio envolvia a inclusão de mulheres, na atualidade a questão é o direito universal de participação, não por sexo, mas por gênero. No passado, mulheres eram entendidas quase como seres inclassificáveis, que ousavam querer usufruir do mesmo espaço que os homens nos Jogos Olímpicos. E o campo da disputa aqui não é de habilidades físicas, e sim de argumentos.

Durante décadas o discurso biológico prevaleceu sobre o discurso social. Mulheres foram submetidas a procedimentos que violavam o direito de privacidade até que provassem sua condição de mulher. Ou seja, depois de aceitas no cenário olímpico, mulheres eram qualificadas para a competição não só por sua habilidade física e motora. Elas tinham que se provar descendentes de Eva, independentemente do que isso representasse.

Nas últimas décadas, as questões de gênero ganharam novos territórios e, evidente, isso atinge a seara olímpica. Times ainda são divididos em masculinos e femininos, e o parâmetro para essa divisão permanece biológico, muito embora atletas, na condição de seres humanos, estão para além de uma diferenciação binária.

Menos arrogante e mais sensível às demandas da sociedade, o Movimento Olímpico dá mostras de que é preciso encarar esse desafio, e com respeito. Já não é mais necessário "recolher material" para análise laboratorial para provar que uma mulher é mulher. Ok. Eu sei que no caso das transgêneros os indicadores hormonais são a referência para que essa atleta atue em um time feminino.

Pergunto então: se o respeito é um valor, por que homens atletas habilidosos não são limitados pelas mesmas métricas que as mulheres? A resposta é fácil e óbvia. Porque os parâmetros foram construídos, historicamente, pelo sexo masculino. Por isso, na década passada, foi necessária uma política de cotas para que as mulheres pudessem ocupar espaços nunca antes ocupados. E porque no momento atual essa discussão é possível.

Respeito e direito caminham juntos. E essa é uma resolução de ano novo muito esperada. Esse tema baterá à porta das instituições esportivas em 2019.

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