Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

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Katia Rubio

Histórico de poucos presidentes no COB é exemplo da política olímpica

Se democracia nunca foi marca do sistema, é preciso afastar marcas totalitárias

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Na próxima semana serão realizadas as eleições para o COB. Eleições, em tese, representam democracia, que significa fazer política, portanto, esporte e política se misturam.

O que se deve discutir é quem dentro do sistema olímpico tem o direito de exercê-la ou de se manifestar sobre. Prova disso é o julgamento na próxima terça-feira (6), um dia antes de tão esperada eleição, de Carol Solberg por exercer seu direito de expressão.

O que muda é o fato de ela ser atleta, a razão de ser do esporte, uma entre tantas pessoas que historicamente estiveram relegadas aos porões das discussões políticas institucionais.

Pierre de Coubertin tinha lá suas diferenças com a democracia no Movimento Olímpico. Ele desejava que o COI e suas representações nacionais pertencessem a grupos fechados às intervenções externas que pudessem tirar o esporte dos seus próprios trilhos. Importante destacar que essa forma de pensar e agir era consequência de uma Europa e de um mundo marcados pelo totalitarismo.

Hannah Arendt afirmou que sempre que o totalitarismo chegou ao poder ele criou instituições novas e destruiu tradições sociais, legais e políticas. Por isso, o totalitarismo difere de outras formas de opressão política, como o despotismo, a tirania e a ditadura. Longe de ser ilegal, recorre à fonte de autoridade da qual as leis positivas recebem a sua legitimidade final. Ou ainda, longe de ser arbitrário, é mais obediente a essas forças sobre-humanas que qualquer governo jamais foi.

Quando a filósofa escreveu essas afirmações, ela tinha em mente os Estados Nacionais e aquilo que acontecia no meio do século passado, mas veste muito bem as instituições contemporâneas que resultaram da falência dos sistemas autoritários.

Foi necessário mais de um século para que o Movimento Olímpico se adaptasse à democracia e se sentisse pertencente a um mundo que clama por transparência e liberdade. Isso ainda se dá de forma lenta e gradual, porque também depende das estruturas nacionais na qual os comitês estão ancorados.
Coubertin desejava autonomia, mas o esporte depende de iniciativas públicas e privadas que escapam ao desejo de independência original.

No caso brasileiro, o Comité Olympico Nacional foi criado em 8 de junho de 1914, juntamente com a Federação Brasileira de Sports, que posteriormente se chamaria Confederação Brasileira de Desportos (CBD).

Entretanto, a fundação efetiva do Comitê Olímpico Brasileiro aconteceu em 20 de maio de 1935, quando então passaram a ser registrados os oito presidentes que fizeram a história: Antonio Prado Junior (1935-1946), Arnaldo Guinle (1947-1950), José Ferreira Santos (1951-1962), Attila Aché (janeiro a outubro de 1963), Sylvio de Magalhães Padilha (1963-1990), André Gustavo Richer (1990-1995), Carlos Arthur Nuzman (1996-2017) e Paulo Wanderley (2017 até hoje).

Os 85 anos de história com tão poucos presidentes revelam como o sistema político olímpico funciona.
Eleições representam o ato de escolher ou de ser escolhido por meio de votação. Em uma democracia representativa, é o processo que indica indivíduos para exercerem o poder.

A democracia olímpica brasileira é feita por um colégio eleitoral composto pelos presidentes de confederações esportivas, a comissão de atletas e os representantes do COI. Pela primeira vez na história concorrerão três chapas.

Sinais dos tempos. Se a democracia nunca foi uma marca do sistema olímpico, é preciso também afastar as marcas totalitárias que deixaram o olimpismo brasileiro preso ao século 19.

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