Katia Rubio

Professora da USP, jornalista e psicóloga, é autora de "Atletas Olímpicos Brasileiros"

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Katia Rubio
Descrição de chapéu Tóquio 2020

Imponderável é parte da vida, e só resta desejar boa recuperação a Bruno Soares

Lamento por todas as pessoas que, às vésperas das competições, perderam a chance de viver os Jogos

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Imagine o que é se preparar durante anos para o grande dia. As grandes celebrações e os rituais mais importantes da vida são aguardados durante anos. A formatura (nos diferentes níveis de formação), as bancas de mestrado e doutorado, o casamento (seja lá o formato), as criações e claro, o inevitável fim.

Na vida dos atletas, as competições ocupam esse lugar. Há muitos campeonatos com diferentes graus de grandeza. Só existe, porém, uma competição com apego mítico e tradição: os Jogos Olímpicos.

Considerada a cereja do bolo de todas as festas esportivas, a Olimpíada significa a realização plena. Ouvi de vários atletas que conquistaram títulos mundiais e prêmios vultosos o lamento por lhes faltar a medalha de ouro olímpica. Compreendo essa fala.

Jogos Olímpicos são —ou deveriam ser— muito mais que uma competição. Seu caráter simbólico tem o poder de imortalizar pessoas que demonstram competência para fugir da média com feitos incomuns.

Por isso lamento por todas as pessoas que, perto de entrarem na Vila Olímpica, ou já dentro dela, foram acometidas por alguma fatalidade, retirando a oportunidade de viver esse feito raro.

Das histórias que conheço, a primeira é de 1948, quando o míope Luís Benvenutti recebeu o cartão de embarque para Londres. Sua acuidade visual lhe pregou uma peça, levando-o ao porto no dia seguinte, o que o deixou de fora daquela edição. Ainda assim, ele consta em documentos como participante. E as Moiras, responsáveis por tecer o destino dos humanos, interferiram na vida de outros atletas.

Bebeto de Freitas, levantador da equipe de voleibol, jogaria em Munique, em 1972, não fosse uma crise de apendicite que o levou ao hospital, e não ao ginásio. Fora daquela edição, ele voltou para jogar em Montreal e, depois, para ser o primeiro técnico de modalidades coletivas medalhista em 1984.

Também em 1972, Luiz Carlos de Souza, do salto em distância, aquecia no vestiário do lindo estádio de Munique para entrar na pista quando escorregou, lesionou-se e não pôde competir.

Anos depois, a ginástica foi privada da presença de duas atletas fundamentais. Soraya Carvalho, em 1996, já em Atlanta, durante a aclimatação, sofreu uma fratura por estresse e voltou ao Brasil sem competir. E Lais Souza, já na cidade de Ipswich, em 2012, sofreu uma fratura na mão e também não competiu.

Bruno Soares (esq.) e Marcelo Melo disputam jogo da Copa Davis
Bruno Soares (esq.) e Marcelo Melo disputam jogo da Copa Davis - Evaristo Sá - 2.fev.19/AFP

Em Pequim, as coisas não foram nada fáceis. Érika Miranda, do judô, já estava junto aos demais atletas quando se lesionou e foi substituída por Andressa Fernandes, que chegou à China um dia antes de competir. Érika ainda teve o privilégio de ir a Londres, em 2012, e viver a experiência olímpica.

Ainda em Pequim, Juliana, a dupla de Larissa, no vôlei de praia, chegou até a Vila Olímpica, mas não pôde competir devido a uma lesão no joelho que se arrastava. Retornou ao Brasil, reabilitou-se e voltou com a dupla Larissa para ser medalha de bronze em Londres.

As emoções continuaram no Rio, em 2016. Fernando Prass, goleiro da seleção de futebol que buscava a então inédita medalha de ouro, ficou fora dos Jogos por causa de uma lesão no ombro.

Portanto, resta escrever a Bruno Soares e desejar boa recuperação. O imponderável é parte da vida.

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