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América Latina e convergência de rendimentos: história de um fracasso?

Em 100 anos, renda dos brasileiros passou de representar pouco mais de 10% da renda dos EUA para 28%

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Carlos Andrés Brando

Historiador. Doutor em História Econômica, London School of Economics & Political Science. Pesquisador pós-doutorando na U. de los Andes e reitor da Faculdade de Economia da U. Jorge Tadeo Lozano.

Uma ideia popular em economia sustenta que os países pobres tendem a crescer mais rapidamente do que os países ricos. Portanto, as economias do mundo acabam convergindo em seus níveis de renda. A vantagem mais importante que os retardatários têm é copiar os melhores padrões e práticas institucionais, tecnológicas e produtivas dos que estão à frente.

Além disso, segundo a teoria, os pobres recebem grandes quantidades de capital dos ricos, o que significa que, apesar de investirem cada vez mais capital na formação de sua força de trabalho ou em suas indústrias, os retornos que obtêm com esses investimentos são cada vez menores.

Como é a teoria à luz da história?

Após a Revolução Industrial Inglesa e o crescimento econômico moderno que ela gerou em meados do século 18, uma dúzia de países ocidentais atingiu níveis de renda semelhantes aos ingleses nos cem anos seguintes. Primeiro vieram a Holanda e a Bélgica. Depois França, Suíça, Dinamarca, Alemanha, Nova Zelândia, Austrália, Canadá e Argentina. No início do século passado, o grupo dos ricos foi completado pela Noruega e Suécia.

Os Estados Unidos merecem uma menção especial, pois ultrapassaram a Inglaterra para se tornarem o país mais rico do mundo, o líder tecnológico e o poder político hegemônico global à beira da Primeira Guerra Mundial.

Desde então, tem havido pouca convergência. Durante os chamados "anos dourados" do período pós-guerra, o crescimento econômico acelerado experimentado pela Áustria, Finlândia, Itália e Espanha os trouxe para o clube de elite. A Irlanda e Portugal somaram-se ao grupo recentemente.

E a América Latina?

A região não tem sido completamente imune ao fenômeno. Entretanto, as experiências históricas de convergência têm sido amargas.

A Argentina era uma das 12 economias mais prósperas do mundo durante o primeiro terço do século 20 e desde então começou um longo declínio gradual (relativo) de seu PIB per capita até os anos 2000. Foi superada pela Venezuela nos anos 1950, cuja economia cresceu rapidamente por mais duas décadas, apenas para sofrer uma grande retração e mais 30 anos de estagnação.

Assim, a Venezuela apresenta uma evolução de sua renda próxima à forma de um sino de distribuição normal. Evidentemente, em nenhum dos casos a convergência foi cimentada.

Um século de convergência (ou divergência) na América Latina, anos 1920 - anos  2010
Um século de convergência (ou divergência) na América Latina, anos 1920 - anos 2010 (Evolução do PIB real p/c, US$ de - Razões de países selecionados em relação aos Estados Unidos) - Reprodução

Fonte: Elaboração própria a partir do Maddison Project Database (2020). G10+ (média do grupo de países ricos mencionados acima, dos quais Argentina e Venezuela fizeram parte temporariamente em diferentes décadas).

Embora os casos do Chile e da Colômbia sejam semelhantes, já que ambos terminam suas trajetórias em níveis de renda muito próximos aos de seus pontos de partida um século atrás, o Chile fica marcadamente atrás do G10+ por 50 anos (1930 a 1970), e só começa a se recuperar na década de 1980. A Colômbia, entretanto, permaneceu praticamente estática desde a década de 1940, com uma reviravolta na última década.

O Brasil é diferente. Mostra uma tendência ascendente apenas desacelerada pela crise da dívida dos anos 1980 e a subsequente "década perdida". Em 100 anos, a renda dos brasileiros passou de representar pouco mais de 10% da renda dos Estados Unidos para 28%. A este ritmo, a convergência com o líder levará cerca de 300 anos.

O sucesso dos países asiáticos

O fracasso da América Latina em convergir é claro e contundente. Mas nem todos sofreram este destino. As experiências do Japão, Hong Kong, Singapura, Taiwan e Coreia do Sul (os "tigres" asiáticos) representam casos de convergência bem-sucedidos.

Começando com o Japão nos anos 1960, e sucessivamente com diferenças de cerca de uma década entre os anos 1970 e 2000, os quatro casos restantes na ordem acima atingiram os níveis de renda do G10+. Enquanto o fizeram com taxas de crescimento diferentes, Hong Kong e Japão com taxas muito altas e a Coreia a um ritmo mais lento, todos eles alcançaram a terra prometida.

Um século de convergência na Ásia Oriental, anos 1920 – anos 2010
Um século de convergência na Ásia Oriental, anos 1920 - anos 2010 (Crescimento real do PIB p/c, US$ de 2011 - Razões de países selecionados em relação aos Estados Unidos) - Reprodução

Fonte: Elaboração própria a partir do Maddison Project Database (2020). G10+ (média do grupo de países ricos mencionados acima, dos quais Argentina e Venezuela fizeram parte temporariamente em diferentes décadas).

Onde está a diferença?

O fator decisivo para entender a razão das diferentes experiências nas duas regiões reside na natureza da integração com a economia internacional.

Por um lado, a América Latina foi integrada através de exportações primárias. Ao longo do século, as matrizes de exportação das cinco economias foram dominadas por commodities: café, trigo, carne, borracha, lã, soja, cobre, nitrato, carvão e petróleo.

Por outro lado, os "tigres" transformaram gradualmente suas matrizes, afastando-se da exportação de bens primários para se concentrarem no desenvolvimento das exportações de bens industriais (e serviços comerciais e financeiros em Singapura e Hong Kong).

Os anos de rápido crescimento e convergência foram anos de dinamismo e consolidação em setores como o automotivo, máquinas de alta precisão, fibras sintéticas, plásticos, semicondutores, software de computador e produtos eletrônicos. Todos esses competindo nos mercados internacionais. Em outras palavras, estas economias deram um grande impulso à sua industrialização, redirecionando-a para a exportação.

A industrialização das exportações estimulou a demanda por atividades domésticas ligadas à produção no exterior, gerou um trabalho formal cada vez mais qualificado, e permitiu que a acumulação de economias fosse recanalizada como investimento em infraestrutura e outros setores ávidos de recursos.

Mas, acima de tudo, este compromisso de exportação exigiu a formação de um sistema tecnológico nacional capaz de inovação contínua, tanto nos produtos quanto nos processos de produção. Assim, empresas e trabalhadores asiáticos se tornaram mais produtivos e agregaram cada vez mais valor aos bens e serviços oferecidos. Como resultado, eles recebiam maiores rendimentos.

Para ser justo, os latino-americanos conseguiram exportar produtos industriais. Mas eles o fizeram em proporções menores, na maioria das vezes regionalmente e episodicamente. Em vez de criar tecnologia em casa, ela foi importada e o círculo virtuoso foi rompido.

As commodities traçaram outro caminho, com problemas estruturais antigos: vulnerabilidade externa, desvalorização da moeda, volatilidade do crescimento e escassez de estímulos e ligações com outras atividades.

O mundo mudou e as notícias não são boas. As condições para saltar adiante são mais difíceis agora do que eram para os "tigres" há quatro ou cinco décadas. Os acordos comerciais bilaterais, as regras do jogo regulatório do comércio internacional e a ubiquidade dos direitos de propriedade intelectual reduziram significativamente o espaço para desenvolver o tipo de políticas industriais que os agora ricos implementaram quando procuraram sair da pobreza.

A América Latina parece condenada a contribuir para as teorias da divergência.

Tradução do espanhol por Maria Isabel Santos Lima

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