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A economia mundial: instabilidade, inflação e política monetária

O aumento da taxa de juros inibe a atividade econômica, uma péssima notícia quando o investimento tem comportamento tão debilitado, como no Brasil e no México

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Gregorio Vidal

Professor do Departamento de Economia da Universidade Autônoma Metropolitana, Unidade Iztapalapa (Cidade do México)

Em menos de três anos, a situação da economia mundial mudou notavelmente.

No início do quarto trimestre de 2019, a debilidade do crescimento era generalizada entre as economias avançadas. Por conta da crise de 2008, a macroeconomia não chegou a alcançar a estabilização e nos Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido e Japão os bancos centrais mantiveram baixas as taxas de juros de referência, próximas de zero, e em alguns países elas foram negativas.

Além disso, foram executados programas de injeção de recursos nos sistemas financeiros, a compra de títulos de dívida, e a denominada flexibilização quantitativa (QE, por sua sigla em inglês) dos bancos centrais teve uma notável dimensão.

Assim, a flexibilização da política monetária incluiu a denominada QE.

Com a pandemia de Covid e diante da drástica queda dos mercados de ações e de títulos de dívida nas principais economias avançadas, a QE se aprofundou, enquanto as taxas de juros se mantinham baixas.

Nas economias de mercados emergentes foram implementadas versões específicas da QE, e entre os principais bancos centrais foram realizadas operações de troca de moedas, principalmente de dólares, pelas de diversos países, para manter a estabilidade monetária.

A tese defendida nos principais círculos acadêmicos e em organizações financeiras internacionais, de que a política monetária é o que permite chegar à estabilidade e recuperar o crescimento. não só foi mantida como aprofundada até ao extremo.

O uso da política fiscal foi pontual e principalmente de suporte ou apoio ao consumo de grupos da população ou de segmentos empresariais, para atenuar a redução de rendimentos, e se manteve, assim, a ideia de considerar o equilíbrio fiscal como variável-chave.

Painel numérico na Bolsa de Valores de Nova York exibe informações sobre os valores das ações
Painel na Bolsa de Valores de Nova York exibe informações sobre os valores das ações - Michael Nagle - 9.mai.2022/Xinhua

Em 2020, os mercados de ações se recuperaram e vários dos principais índices, como o S&P 500, o Dow Jones 30 ou o Nasdaq 100, atingiram níveis históricos. Os mercados da dívida também se recuperaram.

Em meados de 2020, o FMI observou que a ação dos bancos centrais produziu resultados positivos, de tal forma que, nas economias com setores financeiros de importância sistêmica, os mercados de ações se sobrepuseram.

Em 2021, continuou o avanço nos mercados de ações, e até há poucas semanas atrás Dow Jones, Nasdaq e S&P continuaram a reportar máximos recordes. No conjunto da economia, não existe uma situação semelhante. No final de 2021, ainda não se chegava à recuperação contínua da economia mundial.

Contudo, surgiam novos problemas como resultado da pandemia, como as dificuldades em algumas cadeias de valor; atrasos no transporte de mercadorias, com saturação nas rotas marítimas; diferenças notáveis na recuperação de algumas atividades econômicas; e a falta de alguns insumos importantes para certos produtos.

Nesse contexto, reapareceram problemas inflacionários, e em um prazo relativamente curto os índices de preços ao consumidor nas principais economias desenvolvidas ascenderam a níveis não vistos durante vários quinquênios.

Para complicar ainda mais a situação, ocorreu a invasão da Rússia na Ucrânia, desencadeando uma guerra com um alcance indefinido e com um impacto negativo imediato nos preços da energia e em alguns grãos básicos.

Dados recentes sobre o conflito bélico indicam que esse pode prolongar-se enquanto o governo dos Estados Unidos e o resto dos membros da Otan procuram derrotar a Rússia por meio da aplicação de sanções econômicas e o armamento ao governo ucraniano.

O petróleo, o gás, o milho e o trigo foram cotados nos mercados futuros com grande instabilidade e uma tendência de alta, uma vez que Rússia e Ucrânia são produtores de importância global. A inflação, portanto, viu-se ainda mais impulsionada com a guerra.

No entanto, a reação das instituições financeiras internacionais, de vários dos mais importantes bancos centrais e ministérios da Fazenda ou Finanças de algumas economias avançadas é totalmente convencional: mais política monetária. Impõe-se o recurso a um aumento permanente da taxa de juros de referência.

O Fed (banco central dos EUA) começou em 16 de março um ciclo de alta nas taxas de juros a curto prazo, com um aumento de 25 pontos-base.

Semanas depois, em 4 de maio, alegando que se tratava de uma medida para restaurar a estabilidade dos preços, o Fed elevou as taxas de juros em meio ponto e indicou que aumentos semelhantes estão sobre a mesa para as próximas reuniões.

No México e no Brasil, considerando a notável vulnerabilidade dos seus mercados financeiros e a dificuldade de manter capitais no país que detenham títulos de dívida do governo federal e de empresas, ambos os bancos centrais vêm realizando, há meses, algumas altas maiores em sua taxa de referência.

No México, em novembro de 2021, a taxa foi fixada em 5%, e em março de 2022 tinha sido aumentada em 150 pontos-base, a 6,5%.

No Brasil, foi aumentada em 150 pontos-base em dezembro de 2021. Em março foi feito outro aumento, e, no momento em que foi efetuada a subida das taxas do Fed, o Banco Central brasileiro subiu a sua taxa de juros em um ponto percentual, até chegar a 12,75%.

Os aumentos das taxas de juros continuam a somar-se ao argumento do combate à inflação, mas não se observam resultados positivos e, pelo contrário, verifica-se uma diminuição das expectativas de crescimento.

O aumento das taxas de juros inibe a atividade econômica, o que é uma péssima notícia quando o investimento tem um comportamento tão debilitado, particularmente em países como o México e o Brasil.

Tradução de Giulia Gaspa

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