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O que Putin nos conta: mídias russas na América Latina

Alcance de veículos russos como fonte de desinformação para latino-americanos cresceu com a Guerra da Ucrânia

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Johanna Cilano Pelaez

Advogada e cientista política. Doutora em História e Estudos Regionais, com pós-graduação em gestão e análise política na Flacso-México e CIDE.

María Isabel Puerta Riera

Doutora em Ciências Sociais pela Universidade de Carabobo (Venezuela). Secretária da seção de estudos venezuelanos da Latin American Studies Association (LASA).

Nas últimas semanas, como resultado do conflito entre Rússia e o Ocidente desencadeado a partir da invasão da Ucrânia, o alcance das mídias russas como fonte de desinformação para a população latino-americana atingiu novos marcos e elementos probatórios. A presença desses meios de comunicação de massa e de desinformação permite ao Kremlin questionar o modelo democrático vigente na maior parte da América Latina e defender a posição oficial do governo russo em vários temas, incluindo a invasão da Ucrânia.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao lado do ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, durante desfile naval que marca o Dia da Marinha Russa, em São Petersburgo, em 31 de julho de 2022 - Mikhail Klimentyev/AFP

América Latina na mira

Países como México, Argentina e Colômbia são parte dos objetivos estratégicos midiático-políticos da Rússia, de acordo com um estudo da Ipsos encomendado pela RT. É significativo, de acordo com as conclusões do DFR Lab, que 50% do tráfego no site da RT em espanhol seja registrado nos países acima mencionados. Este comportamento reflete a influência que a mídia russa tem em um mercado onde compete com CNN, Voz da América e BBC, entre outras mídias internacionais.

Também é importante considerar o impacto que eles têm nas diferentes redes sociais: Twitter, Facebook, Instagram e Youtube, bem como em seus canais de Telegramas e WhatsApp e seus websites.

Em pleno desenvolvimento

A penetração de meios como RT e Sputnik no espaço informativo latino-americano levou ao desdobramento do sharp power russo, cuja narrativa está em sinergia com a dos governos aliados (Cuba, Nicarágua, Venezuela) e daquelas vozes e redes intelectuais (como as que existem no Clacso) que se veem como a "alternativa multipolar frente ao unipolarismo do Ocidente", cujas dinâmicas são orientadas, na realidade, para a consolidação de uma nova hegemonia geopolítica oposta à democracia liberal.

Rússia e vários países da América Latina têm vivido processos paralelos de autocratização no século 21. Regimes iliberais personalistas, como os de Rússia, Venezuela e Nicarágua, estreitaram o diálogo, a colaboração e o apoio mútuo. Suas práticas convergem na eliminação progressiva de instituições e atores democráticos (partidos de oposição, meios de comunicação e organizações da sociedade civil).

Um caso paradigmático é o nexo entre Rússia e Venezuela. A Venezuela se posiciona como porta de entrada russa ao mercado e espaço regional latino-americano, não só economicamente, mas acadêmica, cultural e midiaticamente. Por sua vez, a Rússia oferece um contrapeso diplomático como aliado global contra os Estados Unidos, contra outros aliados democráticos e contra os questionamentos e desaprovações da comunidade internacional.

Venezuela: porta de entrada

As relações russo-venezuelanas não só diversificaram como se aprofundaram, como vimos após a análise das distintas dimensões onde operam as sinergias iliberais – ideológicas, geopolíticas, de segurança, midiáticas etc.

Para explicar como a influência russa se projeta na América Latina, é possível identificar as sinergias do Kremlin com aliados autocráticos na região nas posturas (diplomáticas e midiáticas) sobre democracia, direitos humanos e relações internacionais.

Em uma análise recente da cobertura e de editoriais da mídia russa e venezuelana, destacam-se elementos como soberania, lealdade e resistência, interpretados a partir de um prisma soberanista iliberal, que delega ao Estado (e a seus altos funcionários) a encarnação da nação, acima de qualquer outra consideração.

As mídias de desinformação russas são máquinas de difusão de propaganda, que promovem a agenda do Kremlin e buscam alimentar a desconfiança nas instituições dentro das sociedades democráticas. Para esses meios de comunicação, os ratings ou a mera penetração no público não é o mais importante, mas a possibilidade de que suas narrativas se tornem referenciais e seus conteúdos possam ser transferidos para outras plataformas mais confiáveis.

Tudo isso representa um campo de luta adicional que requer maior atenção, pois é eficaz em seu propósito de gerar desconfiança na democracia. Isto representa um verdadeiro desafio para as forças democráticas na região, justamente quando a democracia liberal atravessa seu pior momento.

Avanço sem oposição

O avanço da comunicação estratégica da Rússia na América Latina encontrou relativamente pouca oposição. Um dos fatores por trás do êxito da mídia na América Latina é a falta de compreensão do público acerca da natureza do interesse de Moscou no espaço informacional regional. Muitos latino-americanos percebem a presença de veículos de mídia como RT ou Sputnik como uma simples expressão do pluralismo informativo.

No contexto latino-americano, há poucos debates públicos sobre o papel da mídia russa, embora talvez a guerra na Ucrânia tenha modificado um pouco essa situação. A Rússia tentará sustentar sua comunicação estratégica na vizinhança como uma ferramenta eficaz (por seu alto e imediato impacto e custos relativamente baixos) de sua política externa, encontrando uma sintonia com os públicos e discursos iliberais das sociedades, elites e campo intelectual latino-americanos.

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