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Bukele militariza municípios para conter a queda de sua popularidade

Presidente de El Salvador nunca recua seus passos e sempre encontra uma forma de sair de apuros

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​Dardo Justino Rodríguez

Analista, comunicador e consultor independente para organizações e agências internacionais. Diretor nacional da Presagio Consulting Honduras.

No mês de maio, em uma reunião com prefeitos, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, assegurou que Soyapango era o município mais seguro do país, mais seguro do que a Costa Rica, o país da região com os menores índices de criminalidade.

Entretanto, poucos meses depois, em 3 de dezembro, o presidente salvadorenho anunciou que o Soyapango estava totalmente cercado por efetivos militares e da Polícia Nacional Civil (PNC), devido à alta presença de membros de gangues e ao aumento da criminalidade.

O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, discursa a militares em San Juan Opico
O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, discursa a militares em San Juan Opico - José Cabezas - 23.nov.22/Reuters

Militarização ou cerco?

Bukele anunciou em declarações que "8.500 soldados e 1.500 agentes cercaram a cidade, enquanto as equipes de extração da polícia e o exército se encarregam de remover um a um todos os membros da gangue que ainda estão lá". Segundo os porta-vozes oficiais, isto não se tratava de uma militarização do município, mas um cerco para evitar a fuga de elementos criminosos ainda presentes.

Desde o início da operação, grupos de dez a vinte soldados e policiais têm sido vistos circulando nas ruas do município pedindo documentação aos transeuntes e prendendo aqueles que consideram suspeitos, principalmente os jovens.

Soyapango, com uma população de 258.000 pessoas, é um dos municípios mais populosos do país, segundo dados oficiais de alguns anos atrás, e um centro de intensa atividade econômica e industrial. Portanto, as operações também estão afetando o fluxo normal do comércio e a economia.

De acordo com Bukele, esta é a quinta fase do Plano de Controle Territorial do governo, anunciado em novembro passado. Esta fase consistiria na captura de membros de gangues e outros criminosos escondidos em locais até agora considerados seguros para as gangues. Um porta-voz do Gabinete de Defesa indicou que as forças de intervenção têm listas com os nomes dos criminosos escondidos em Soyapango, por isso a busca está se tornando mais personalizada.

Encenação

Para os numerosos opositores ao governo, esta grande mobilização é uma nova encenação do presidente, muito adepto aos golpes de efeito, que, embora atraiam a atenção, não garantem uma melhoria na situação de insegurança em que vive uma grande parte da população salvadorenha.

Segundo a oposição, estes golpes teriam o objetivo oculto de recuperar a popularidade enfraquecida do presidente entre a população. Embora para a –muito pouco crível– empresa de pesquisa CID-Gallup, Bukele é o político com maior nível de aceitação na América Latina, a verdade é que, dos altíssimos índices que teve no início de sua gestão, agora alcança 58%, de acordo com os dados coletados por outras empresas de pesquisa. Embora seja um alto nível de aprovação, o apoio se reduz de forma persistente, de acordo com essas mesmas fontes.

Mas, apesar da natureza contraditória das medidas, levando em conta as declarações oficiais de alguns meses do presidente, alguns de seus ministros e da prefeita deste município, Nercy Montano –que garantiu que seu município era o mais seguro de toda a América Central–, o ministro da Defesa, René Francis Merino Monroy, garantiu que esta estratégia de cercos militares será implementada em outros municípios do país.

Diante destes novos anúncios, e como geralmente acontece com cada decisão controversa de Bukele, as críticas surgiram de imediato a partir de vários setores da oposição, que consideram que esta medida não só tem poucas possibilidades de êxito, mas também viola os direitos humanos da maioria da população.

A FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional) criticou a medida por violar as regulações sobre segurança do cidadão acordadas nos Acordos de Paz. Os líderes de outros espaços opositores têm expressado o mesmo, como o Partido Vamos, que assinalou Bukele como um líder autoritário e o comparou a Daniel Ortega na Nicarágua.

Diante das críticas, o ministro da Defesa assegurou que "não há complicações para a população honesta", e que o grau de erro é zero. Entretanto, os residentes de Soyapango não foram consultados sobre as medidas aplicadas.

Não foi só da oposição política que surgiram as reprovações, mas também das próprias forças policiais. O MTP (Movimiento de los Trabajadores de la Policía) –uma espécie de sindicato– reclamou ao governo e aos meios de comunicação, indicando que o bem-estar da polícia que participa do cerco não está sendo levado em conta. Como expressaram, os policiais, após intensas patrulhas noturnas, devem dormir no chão e carecem de alimentação adequada e condições básicas de higiene pessoal.

Apesar das numerosas críticas à política de segurança do governo, é pouco provável que Bukele retroceda nesta fase do Plano de Controle Territorial. O presidente nunca recua seus passos e sempre encontra uma forma de sair de apuros. Quando as coisas não vão bem, apela a mentiras e enganos, mas cada vez menos cidadãos acreditam neles.

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