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A política externa cubana na 'nova Guerra Fria'

A realidade é que, a Cuba, só resta alinhar-se com os Estados Unidos

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José Gabriel Barrenechea

Graduado do Curso de Formação Literária do Centro Onelio Jorge Cardoso e de Formação Sócio-Política do Instituto Superior de Ciências Religiosas a Distância “San Agustín”, da Universidade Católica de Valência San Vicente Mártir

No atual contexto internacional, três alternativas possíveis de política externa se abrem para a política externa cubana: o alinhamento com a Rússia e a China; o não alinhamento; e o alinhamento com os Estados Unidos. Entretanto, a terceira é a única realista.

Alinhamento com a Rússia e a China

Há uma diferença entre as atuais potências globais que enfrentam os Estados Unidos e a extinta União Soviética: o pragmatismo na defesa do interesse nacional desempenhou um papel importante na política externa soviética, mas não foi o fator determinante. A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas tinha uma concepção política universalista, segundo a qual todas as pessoas e todos os países, pelas leis históricas do desenvolvimento socioeconômico, estavam caminhando para um único destino comum. Por se considerarem os mais avançados nesse caminho, se sentiam eticamente obrigados a ajudar qualquer pessoa que pedisse ajuda para avançar nesse caminho. Não importava se o solicitante se encontrava dentro de sua área de influência ou não.

Por outro lado, a China de hoje não coloca sua suposta visão ideológica universalista acima de seus interesses nacionais, interpretados de acordo com rigorosos critérios de rentabilidade econômico-financeira. Quanto à Rússia, sua ideologia é abertamente imperialista. As elites dominantes de ambas as superpotências não propõem nenhum projeto ou destino comum para o resto da humanidade; buscam apenas se posicionar em uma hierarquia imperialista de poderes globais. Em um prazo imediato, o que elas buscam é uma área de influência que seja respeitada pelas demais superpotências; na esperança, pelo menos no caso da China, de que em um futuro um pouco mais distante possa sonhar com a hegemonia planetária.

Esperar, a partir de Cuba, que a Rússia ou a China mantenham uma relação semelhante à que tiveram com a extinta União Soviética é não entender a profunda diferença entre essa multipolaridade e a que a precedeu. Não só não se pode esperar o mesmo em termos de apoio material, know how ou assistência financeira, mas até mesmo em termos de apoio político e militar.

Com muita imaginação, Cuba só poderia esperar um apoio semelhante de qualquer uma das duas superpotências globais que desafiam o poder hegemônico estadunidense enquanto os Estados Unidos continuarem se recusando a aceitar a divisão do mundo em esferas de influência. Uma vez que os Estados Unidos aceitem essa divisão, as esferas de influência dos outros serão religiosamente respeitadas —e, sem dúvida, Cuba pertence à estadunidense.

Alinhar-se com a Rússia ou a China não garante nada para Cuba, nem mesmo para as elites pós-castristas. Mais cedo ou mais tarde, as potências irão negociar com Washington para avançar em direção a um mundo dividido em três áreas de influência. Dessa forma, a Cuba só resta ser o "quintal" dos Estados Unidos.

O não alinhamento

A Guerra Fria ocorreu em um contexto altamente ideologizado, no qual os dois grandes centros de poder aceitaram os princípios de convivência internacional de Woodrow Wilson: a inviolabilidade das fronteiras e, pelo menos em teoria, a soberania e a independência dos Estados dentro delas. No final das contas, eram, mais do que dois Estados lutando pelo poder mundial, duas concepções de sociedade e economia que disputavam entre si os corações e as vontades de todos os seres humanos, a quem, portanto, deveriam permitir uma certa capacidade de decisão.

O novo contexto das relações internacionais proposto abertamente por Moscou, mas também por Pequim, é muito diferente. É improvável que as atuais superpotências vão além disso em um curto prazo, até a eliminação da independência ou um massivo deslocamento das fronteiras. Em primeiro lugar, devido ao peso das tradições de respeito à soberania nacional herdadas do século 20, mas, acima de tudo, porque tanto a Rússia quanto a China são unidades etnicamente muito homogêneas e com muito interesse em permanecer assim.

Entretanto, em suas áreas de influência, ou no que consideram como tal, nem essas superpotências nem os Estados Unidos serão tão permissivos quanto foram as superpotências da anterior Guerra Fria. Estados como o Brasil ou a Índia, sem dúvida, manterão um forte grau de independência política e econômica, mas esse não será o caso de pequenos Estados como Cuba, Belarus ou Birmânia, localizados próximos às superpotências atuais.

Falamos sobre o abandono do idealismo e o retorno ao realismo político nas relações internacionais. O retorno da velha política do século 19, na qual simplesmente intervínhamos diretamente com base em um interesse nacional que não era disfarçado por declarações idealistas. Do retorno do direito à força, sem pretensões. Porque o que propõem os atuais desafiantes da hegemonia dos Estados Unidos, ou mesmo um setor importante dentro da própria política americana, nada mais é do que um acordo de divisão do mundo entre os fortes, no qual a opinião dos débeis não importa.

E, nesse contexto, pensar que o não alinhamento pode ser usado, pelo menos para aqueles Estados que claramente fazem parte da área estratégica das grandes potências, não passa de uma ilusão.

Em todo caso, o fato de Cuba conseguir ou não seguir uma política de não alinhamento dependerá da boa vontade dos Estados Unidos e de sua determinação em manter o compromisso com os princípios internacionais de Woodrow Wilson. Se os Estados Unidos finalmente aceitarem a ideia de zonas de influência, a independência cubana não passará de uma fantasia. Mas mesmo que os Estados Unidos contrariem as tendências da época, sua proximidade geográfica e demográfica com Cuba não permitiria que aceitassem uma Cuba não aliada.

Alinhamento com os Estados Unidos

A realidade é que a Cuba só resta alinhar-se com os Estados Unidos e, inclusive, não permanecer em um simples alinhamento diplomático, mas sim buscar aproximar-se econômica ou politicamente o máximo possível.

A economia, a cultura, a demografia, sua história, tudo leva Cuba a se alinhar com os Estados Unidos. Essa tendência é tão forte que existe a possibilidade de que o próprio regime de Castro, após o desaparecimento dos últimos remanescentes da geração histórica, se deixe arrastar por ela.

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