Latinoamérica21

www.latinoamerica21.com é uma mídia pluralista comprometida com a disseminação de informações críticas e verdadeiras sobre a América Latina.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Latinoamérica21
Descrição de chapéu LATINOAMÉRICA21

O assassinato de Villavicencio e as eleições no Equador

Jornalista, candidato à Presidência denunciava ações do crime organizado

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Nesta quarta-feira (9), poucos dias antes das eleições presidenciais no Equador, o candidato Fernando Villavicencio foi morto a tiros durante um comício em Quito. O presidente Guillermo Lasso declarou estado de emergência por 60 dias em todo o país.

O primeiro assassinato de um candidato presidencial na história do país é um ataque à democracia e visibiliza a profunda crise e a onda de violência política sem precedentes no Equador. Esse ato, precedido de ameaças e de um atentado por parte de grupos criminosos, reflete o crescente desafio do crime organizado transnacional para os países latino-americanos e marca um ponto de inflexão para o futuro do Equador.

Villavicencio era jornalista, ex-deputado e candidato à Presidência pelo Movimiento Construye. Em um contexto eleitoral marcado pela indecisão, o ex-candidato ficava em segundo, terceiro ou quarto lugar, dependendo da pesquisa. Ele foi um opositor ferrenho do governo de Rafael Correa e, durante a gestão deste, denunciou supostos casos de corrupção e foi condenado a 18 meses de prisão em 2014, mas não cumpriu a pena porque se escondeu na selva amazônica.

Andrea Gonzalez, mulher de Fernando Villavicencio, assassinado na quarta-feira (9) em Quito - Karen Toro/Reuters

Em 2016, um juiz ordenou sua prisão por divulgar informações confidenciais. Naquela ocasião, ele se refugiou em Lima e, em 2017, retornou ao país durante o governo de Lenín Moreno (2017-2021). Desde então, Villavicencio manteve um perfil político ativo e teve proteção policial, denunciando nos últimos anos as ações do crime organizado. Villavicencio também era um colaborador próximo do governo de Guillermo Lasso. Seu assassinato chocou o país. Neste ano, outros quatro políticos, de diferentes tendências, foram assassinados.

Antes considerado uma ilha de paz, e segundo país mais seguro da América Latina até 2017, o Equador deixou de ser um território de trânsito para se tornar um centro de armazenamento, processamento e distribuição de drogas na América Latina. Diante das ameaças do crime organizado e daqueles que buscam soluções autoritárias, o país chegou a um ponto em que é urgente priorizar e defender a democracia, a paz e a segurança cidadã acima das diferenças políticas.

O dia 20 de agosto será um momento decisivo por vários motivos. Primeiro, serão realizadas eleições presidenciais e legislativas. Essas são eleições de meio de mandato, convocadas pelo presidente Guillermo Lasso, após a dissolução da Assembleia Nacional, de maioria oposicionista. Essa decisão ocorreu em meio a um julgamento de impeachment contra ele, acusado de corrupção e desvio de verba pública.

Fernando Villavicencio, em evento de campanha na quarta-feira (9) - Karen Toro/Reuters

A investigação, denominada Gran Padrino, revelou uma suposta rede de tráfico de influência dentro de empresas públicas, envolvendo pessoas próximas ao presidente, como seu cunhado Danilo Carrera, bem como o financiamento ilícito de sua campanha presidencial. O presidente equatoriano negou repetidamente essas acusações e, de acordo com organizações como a Repórteres Sem Fronteiras, tentou censurar o trabalho jornalístico dos denunciantes, descrevendo-os como "terroristas da mídia".

A violência extrema no Equador e as ameaças e o clima hostil contra o jornalismo levaram à recente saída do país de Andersson Boscán e Mónica Velásquez, jornalistas do La Posta, bem como ao exílio dos jornalistas Karol Noroña e Lissette Ormaza.

Os problemas atuais do Equador são resultado de fatores estruturais e da inação do atual governo, que carece de uma verdadeira estratégia de segurança e contribuiu para o agravamento da situação por meio de um processo de erosão democrática progressiva e de políticas de austeridade e ajuste econômico.

Em meio a esse cenário, os eleitores indecisos nas próximas eleições ultrapassam 50%, mas várias pesquisas apontam que Luisa González, candidata da Revolución Ciudadana, do ex-presidente Rafael Correa, lidera as intenções de voto, tendo chances de vencer já no primeiro turno. A depender da pesquisa, os candidatos Otto Sonnenholzner (Actuemos), Yaku Pérez (Alianza Claro que se Puede) e Jan Topic (Por un País sin Miedo) disputam o lugar no segundo turno com a candidata correísta.

Em 20 de agosto, o Equador também realizará um referendo histórico que poderá pôr fim a seis décadas de extrativismo de petróleo no Bloco ITT, localizado no coração do Parque Nacional Yasuní. Esse parque, criado em 1979 e declarado Reserva da Biosfera pela Unesco, é considerado um dos lugares com maior biodiversidade do planeta e um refúgio para os tagaeris e taromenanes, os últimos grupos indígenas em isolamento voluntário no país.

A centralidade dessa consulta está na possibilidade de começar a construir um modelo alternativo ao extrativismo que busca garantir o bem-estar sustentável centrado nos interesses da maioria. É também uma forma de preservar uma região de importância estratégica para o mundo e uma contribuição concreta contra as mudanças climáticas que colocaria o país na vanguarda da preservação e defesa ambiental.

O Equador é hoje um país mortalmente ferido, que precisa urgentemente de um projeto de unidade, paz e reconstrução nacional. Nesse contexto, é essencial evitar a instrumentalização de assassinatos como o de Fernando Villavicencio e impedir a criminalização de qualquer movimento político. Diante das ameaças do crime organizado e das forças desestabilizadoras, o melhor antídoto é a unidade nacional e a condução adequada das eleições planejadas, com a observação e o apoio da comunidade internacional.

Embora o próximo governo vá ser de transição, o próximo presidente terá uma tarefa hercúlea, na qual a reconstrução do Equador, a garantia da democracia, da segurança pública e da justiça social devem ser a prioridade. Juntamente com esses objetivos, a consulta sobre o Yasuní também oferece uma oportunidade histórica para começar a pôr fim ao extrativismo e implementar ações de justiça ambiental e climática para o benefício de todos.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.