Laura Mattos

Jornalista e mestre pela USP, é autora de 'Herói Mutilado – Roque Santeiro e os Bastidores da Censura à TV na Ditadura'.

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Descrição de chapéu desigualdade educacional

Como fica a relação entre escolas e famílias quando falta dinheiro dos dois lados?

Crise econômica na pandemia eleva em 50% a inadimplência com mensalidades e amplia migração de alunos da rede privada para a pública

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São números e números que se acumulam na bola de neve das consequências da crise econômica da pandemia para escolas particulares e pais de alunos. Com um lado precisando aumentar o valor das mensalidade e o outro, reduzir, a relação fica tensa e pode se romper, obrigando as famílias a buscar escolas mais baratas ou públicas.

Em São Paulo, a transferência para a rede estadual cresceu 45%. De março a dezembro de 2020, 15.615 estudantes migraram de colégios particulares para estaduais.

No mesmo período de 2019, haviam sido 10.811. A transferência para as municipais também se ampliou. Na capital, o aumento foi de 35% de 2019 para 2020 (6.597 para 8.949).

Em 2021, a tendência se mantém. Até março, 9.590 migraram de escolas particulares para municipais. É um acréscimo de 25% em relação ao mesmo período de 2020 (7.654 alunos) e mais do que o dobro de janeiro a março de 2019 (4.527).

A inadimplência com mensalidades, que historicamente gira em torno de 10% da receita da escola, subiu em 50%, atingindo 15% em 2020, segundo estimativa da Federação Nacional de Escolas Particulares, a Fenep.

A falta de pagamento se soma à perda de alunos e à necessidade de se conceder descontos nas mensalidades, a partir da pressão das família que perderam renda e exigem pagar menos por aulas remotas.

Essa matemática imposta pela pandemia fez das dificuldades financeiras uma regra para colégios privados, e o risco de falência se ampliou drasticamente, em especial para aqueles com poucos alunos.

Foram fechadas cerca de 30% das escolas que só tinham educação infantil e contavam com menos de 200 crianças, nos cálculos do Sindicato de Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo, o Sieeesp.

No país, a estimativa da Fenep é a de que tenha chegado a 5.000 o número de escolas infantis que fecharam em razão da crise da Covid-19, dentre as 25 mil até então existentes.

Escolas lutam pela sobrevivência ao mesmo tempo que precisam pensar e repensar todos os dias estratégias pedagógicas em meio ao abre-fecha e à instabilidade das regras governamentais.

Das 40 mil escolas particulares do país, entre 80% e 90% são de pequeno e médio porte, até 300 alunos, ou seja, mais vulneráveis nesse furacão.

A expectativa é a de que cresçam as aquisições de escolas por grupos de investimento e a do fortalecimento de empresas de suporte para o ensino remoto e para a área administrativa.

A prestigiada London School of Economics and Political Science (LSE) premiou neste ano uma startup brasileira de gestão de mensalidades.

O Educbank, criado em 2020, recebe uma taxa das escolas em troca de um sistema de cobrança aos pais de alunos e da garantia do repasse integral das mensalidades mesmo quando houver inadimplência.

Seu criador é Danilo Costa, fundador da Vereda Educação, um dos novos grupos de escolas cujo marketing é oferecer metodologias inovadoras de ensino com mensalidades abaixo de R$ 1.000. O empresário deixou a sociedade na Vereda a fim de investir na nova ideia após sentir o peso da inadimplência escolar.

As dificuldades financeiras das escolas se embolam às das famílias em um momento em que não faltam controvérsias na educação.

Temos, então, que falar de dinheiro ao mesmo tempo que brigamos para a escola abrir ou para fechar, para que os mais novos ou os mais velhos sejam priorizados nas atividades presenciais, para as aulas remotas serem gravadas ou ao vivo, para que se cobre menos ou mais conteúdo.

A situação leva a demandas por vezes tragicômicas. Pais, por exemplo, podem ao mesmo tempo pedir para que a mensalidade seja reduzida em razão do ensino remoto e para que as aulas presencias do filho sejam ampliadas.

Escolas são capazes de informar que a mensalidade vai aumentar para, na sequência, avisar as famílias que várias turmas serão reunidas em uma mesma sala de aula remota e que, sendo assim, os 90 alunos terão que desligar a câmera porque, do contrário, a chamada irá cair.

Nas reuniões, portanto, seja qual for a polêmica do dia, tanto a escola quanto a família têm que contar até mil, lembrar que não está fácil para nenhum dos lados e imprimir esforços mútuos para apaziguar a relação.

Ou é justo que nós, pais ou educadores, protagonizemos barracos virtuais ou presencias enquanto as crianças e os adolescentes têm de lidar com sequelas emocionais e de aprendizagem da pandemia?

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