Lorena Hakak

Doutora em economia e professora da FGV. Atua como presidente da GeFam (Sociedade de Economia da Família e do Gênero)

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Lorena Hakak

Um olhar sobre o empreendedorismo feminino

Algumas mulheres decidem empreender por desejo, outras por necessidade

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Neste último sábado (14), participei de uma das inúmeras sessões organizadas no Festival RME (Rede Mulher Empreendedora), marcando minha primeira participação. No Painel Folha, estavam também a colunista da Folha Bianca Santana e a editora-adjunta Sílvia Haidar.

Estávamos no palco e, à nossa frente, uma plateia grande e entusiasmada com os olhares fixos em direção às palestrantes. Iniciei minha apresentação perguntando por que as pessoas decidem empreender. De acordo com a professora Seema Jayachandran, no artigo Microentrepreneurship in developing countries (2021), o termo empreendedor "conota muitas vezes um proprietário de negócios altamente ambicioso e orientado para o crescimento". Porém, nem sempre é assim.

O empreendedor pode ser classificado como empregador (possuem empregados) ou conta-própria (não possuem empregados), com ou sem CNPJ. Observamos, assim, milhares de empreendedores na sociedade com negócios de diferentes tamanhos, formais ou informais. Segundo Jayachandran, um terço dos trabalhadores em países de renda baixa ou média são conta-própria, enquanto em países de renda alta essa proporção gira em torno de 10%.

Fotografia de uma mulher trabalhando em frente ao computador, enquanto o filho pequeno se apoia em seu braço; ela passa uma mão no rosto com expressão de cansada
Entre os empreendedores que têm seus negócios no próprio domicílio, as mulheres são maioria - Ersin/Adobe Stock

Os motivos pelos quais as pessoas decidem empreender podem ser variados. Alguns o fazem por desejo, outros, por necessidade. Existem várias histórias de mulheres que decidiram empreender depois da maternidade por não conseguirem conciliar um trabalho de longas horas presencial com a maternidade. Ou simplesmente por terem sido demitidas após o retorno da licença-maternidade.

Segundo a Carta GeFam "Empreendedorismo Femino", feita em parceria com Ana de Holanda Barbosa, Synthia Santana e Kelly Santos, utilizando dados da PNADC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), entre 2012 e 2023, somente 35% do total de empreendedores são mulheres. Uma das razões para essa diferença é que, geralmente, as mulheres enfrentam mais dificuldades no acesso a crédito e podem ser consideradas "menos capazes" do que os homens para abrir um negócio devido a normas sociais.

Entre os empreendedores que têm seus negócios no próprio domicílio, as mulheres são maioria, 67%. Isso pode ser um reflexo das demandas de cuidados e afazeres domésticos que ficam majoritariamente a cargo das mulheres. Além disso, 92% das empreendedoras vivem em domicílios com sua família, nuclear ou estendida, o que pode influenciar o tipo de negócio e limitar a sua expansão.

Ao analisar a questão sob a perspectiva racial, observam-se outras desigualdades. As empreendedoras negras (pretas e pardas) representam 54% do total entre as mulheres empreendedoras. No entanto, esses números não refletem completamente algumas disparidades. As mulheres negras são a maioria entre as trabalhadoras autônomas, com uma proporção de 56%, mas constituem a minoria entre as empregadoras, com apenas 36,2%. Uma outra diferença é que das empresas com CNPJ, somente 40% são lideradas por mulheres negras.

Essas discrepâncias evidenciam as desigualdades de gênero e raça no panorama empreendedor brasileiro, ressaltando a urgência de implementar políticas para mulheres empreendedoras, como apoio ao crédito, programas de mentoria, e educação financeira para estimular o crescimento e a sustentabilidade dos seus negócios. A economia agradece.

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