Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães

A aliança improvável que tenta derrotar Trump

Cansados do presidente, republicanos criam comitês para ajudar campanha de Biden

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Alguém se lembra quando Guilherme Boulos, João Amoêdo, Chico Buarque e o general Santos Cruz pediram voto para o mesmo candidato a presidente? Eu também não.

Um cenário sem precedentes vai virando realidade nos Estados Unidos graças a Donald Trump. A negligência espantosa do presidente americano na pandemia do coronavírus parece ter sido a gota d’água na paciência nacional e produziu um arco-íris eleitoral como nunca se viu no país.

O presidente Donald Trump, durante discurso na Casa Branca - Saul Loeb/AFP

Vejam quem anda pedindo voto para o democrata Joe Biden: o linguista e ídolo da esquerda Noam Chomsky; o general Jim “Cachorro Louco” Mattis, ex-secretário de Defesa de Trump; a ex-membro do Partido Comunista e ex-militante dos Panteras Negras Angela Davis; e o general e ex-secretário de Estado de Bush filho Colin Powell.

Imaginem esses quatro, em outros tempos, presos num elevador enguiçado.

Em 2016, a esquerda americana, que reage a Hillary Clinton com uma hidrofobia semelhante à do antipetismo de direita no Brasil, tinha certeza que a candidata democrata ia levar a eleição. E achou boa ideia promover a candidatura verde da terminalmente xucra Jill Stein. Hillary perdeu no colégio eleitoral por apenas 79.646 votos.

Pausa para pensar quantas dezenas de milhares de vidas americanas teriam sido salvas pela presidente Clinton. 2016 foi uma repetição de 2000, quando, inconformada com o neoliberalismo de Bill Clinton, a esquerda democrata promoveu o candidato de Ralph Nader, também do Partido Verde, contra Al Gore.

Nader foi instrumental para a derrota apertadíssima de Gore. O que levou a Suprema Corte, numa votação vergonhosa por 5 a 4, a colocar a presidência no colo de George W. Bush. E veio a catastrófica invasão do Iraque, um dos principais argumentos da campanha vitoriosa de Barack Obama.

A pandemia matou pelo menos 117 mil nos EUA, duas vezes mais do que a Guerra do Vietnã, e um novo estudo prevê 200 mil mortos até 1º de outubro. O Partido Republicano já não é mais conservador, no sentido tradicional da direita “mainstream” americana. É o partido de Trump.

Republicanos exilados do trumpismo têm se organizado em comitês de ação política (PACs), grupos que podem arrecadar quantidade ilimitada de fundos, teoricamente independentes de campanhas presidenciais.

Nesta semana, apareceu um novo PAC pró-Biden, o Right Side PAC, que conta com apoio de ex-membros dos governos Bush filho e Trump. O grupo vem se juntar a outros como o Eleitores Republicanos contra Trump e ao Lincoln Project, que têm exibido alguns dos mais potentes anúncios, não só contra o presidente, mas contra políticos do partido ao qual eram filiados.

Esses conservadores acreditam que só uma derrota republicana nos estados, na Câmara e no Senado pode extirpar o trumpismo que veem como fórmula para a extinção de um conservadorismo viável.

Uma derrota de Trump em novembro, cada vez mais possível, de acordo com pesquisas recentes, não devolve à lâmpada o gênio maligno do trumpismo. Mas as últimas manifestações de militares e os tímidos gestos de independência de republicanos eleitos, diante do assassinato do negro George Floyd, mostram que a tolerância da direita com o desgoverno nacional não é mais a mesma.

Resta saber se há democratas dispostos, mais uma vez, a apontar a arma para o próprio pé.

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