Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães

Biden provoca Amazon em discurso a favor da organização de sindicatos

Sem maioria folgada no Senado, presidente americano apela a seu megafone para defender direitos trabalhistas

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"Amazon, preste atenção, estamos chegando!" Quem fez a provocação para uma concentração de trabalhadores nos EUA? A versão jovem de um Lula num ABC americano? Não, o discurso passional nesta quarta (6) foi do senhor quase octogenário que bate ponto diariamente na Casa Branca. Joe Biden falava para uma conferência de trabalhadores da construção, num hotel de Washington.

Em 2020, ele disse que seria o presidente mais pró-sindicato da história americana. O recente e histórico voto pela formação do primeiro sindicato num depósito da Amazon, no bairro nova-iorquino de Staten Island, vem na esteira da pandemia que penalizou desproporcionalmente trabalhadores de colarinho azul sem o privilégio do trabalho remoto.

O presidente dos EUA, Joe Biden, discursa a grupo de trabalhadores durante evento em hotel em Washington
O presidente dos EUA, Joe Biden, discursa a grupo de trabalhadores durante evento em hotel em Washington - Mandel Ngan/AFP

Mas poderia também sinalizar uma inflexão, depois de décadas de declínio do poder de negociação dos trabalhadores? O segmento de trabalho sindicalizado caiu de 34%, nos anos 1950, para 10% no ano passado. Hoje, 68% dos americanos dizem apoiar sindicatos, o número mais alto desde 1965.

Em campanha, Biden martelava a defesa de "um emprego sindical bem remunerado". A idade e os maneirismos verbais folclóricos do democrata distraem os cínicos do fato de que ele defende direitos trabalhistas mais do que seus antecessores Bill Clinton, Barack Obama e até o homem cuja Presidência estudou e tenta emular, Franklin Roosevelt, o criador do New Deal.

Steven Greenhouse confirma a comparação. Ele é autor do elogiado "Beaten Down, Worked Up: The Past, Present and Future of American Labor" (derrotados e exaustos: passado, presente e futuro do trabalho americano), um profundo exame da retração na organização de trabalhadores dos EUA.

Falando com a Folha antes da votação em Nova York, Greenhouse previu que o simbolismo da vitória seria importante porque a Amazon, segunda maior empregadora privada do país, tomou o lugar da primeira, a Walmart, como ícone do comércio na consciência popular.

A Walmart, lembra Greenhouse, continua um marco relevante das táticas de agressividade antissindical. Talvez ajude o fato de que a maioria dos americanos não saberia nomear a família que controla a Walmart, mas tem Jeff Bezos na ponta da língua e sabe que ele é o segundo homem mais rico do mundo.

A luta no depósito de Nova York decolou quando a Amazon despediu o agora eleito primeiro presidente do novo sindicato, Christian Smalls, por liderar uma paralisação por melhores condições de trabalho nas primeiras semanas da pandemia, em março de 2020. Smalls revela que está recebendo inúmeros pedidos de assessoria para organização sindical de outros depósitos da Amazon.

Horas depois da votação em Staten Island, empregados de uma das maiores lojas da rede Starbucks em Manhattan votaram pela formação de um sindicato. Não é a primeira vez em uma loja da rede, mas a visibilidade de Nova York, dizem organizadores, se traduz em estímulo nacional.

Sem folgada maioria no Senado, não há muito que um presidente americano possa fazer para proteger direitos trabalhistas da sistemática —e perfeitamente legal— intimidação em empresas privadas. Mas Biden pode usar seu megafone, como fez em dezembro passado, disparando uma nota de condenação à gigante de alimentos Kellogg que ameaçava contratar trabalhadores para furar uma greve.

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