Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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'Euphoria', com sexo explícito e drogas, traz um olhar instigante da adolescência

Série não deixa de falar de amor mesmo fora da cartilha do gênero. Essencialmente, amor próprio e a falta dele

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Comece sabendo que "Euphoria", a produção da HBO com a ex-estrela mirim Zendaya, egressa do Disney Channel, não é a típica série adolescente. Com todo o drama hormonal característico da idade, há doses cavalares de drogas e sexo, closes em genitais masculinos normalmente preteridos na TV, e niilismo a rodo.

Seus protagonistas tampouco são os excluídos sociais de sempre ou os ultrarricos esquemáticos que rondam o sistema, duas estirpes que povoam o subgênero. São o filho, o amigo, o sobrinho, ou o vizinho de qualquer um de nós.

É difícil, para quem já avançou uns anos, saber quão realista a rotina dos adolescentes de "Euphoria" é --ela parece excessiva nas relações e em tudo, do descaso de pais e mestres ao consumo escapista de entorpecentes.

Zendaya em cena da série 'Euphoria' - Divulgação

Mas a intensidade é o tom dessa fase da vida, e não deixa de ser instigante vê-la ser usada como recurso narrativo. Sabe o meme "como me vejo", "como meus pais me veem", "como meus amigos me veem"? "Euphoria" é feita disso, de quão fortes os sentimentos parecem aos 13, 16, 19 anos e quão distorcida é a leitura que adultos fazem deles.

Nesse sentido, o roteirista Sam Levinson criou um universo paralelo tangível que se aproxima muito mais daquele que Larry Clark mostrou em "Kids", clássico dos anos 1990, do que de fantasias como "Gossip Girl" ou do pretenso realismo de "Girls".

O que não soa superlativo na história de Rue, a menina de família dedicada e afluente que se dissipa cedo na dependência química, é o quanto a adolescência hoje é determinada por ditames virtuais.

O sexo é aprendido em vídeos pornôs ("todo mundo vê", diz uma personagem); as conversas só merecem atenção quando se dão em mensagens de texto; as experiências almejadas são as que possam ser contempladas com "likes".

Esse simulacro fica nítido na personagem Jules, uma garota transgênero de roupa excessivamente rosa e ar de sílfide que é, entre todos, a única autêntica no que sente e faz.

Parte dessa autenticidade se deve ao carisma e talento da atriz Hunter Schafer (o restante da órbita de Rue é interessante o suficiente --sobretudo a gordinha Kat, interpretada pela atriz e modelo Barbara Ferreira, filha de brasileira).

Vinda das passarelas e editoriais de moda, Schafer antes se fez notar, junto com seu pai, como uma das pioneiras da briga na Justiça americana por banheiros em escolas que contemplassem crianças e adolescentes trans como ela.

Aos 20, sua luminosidade na tela é tão singular que levou o jornal The New York Times a lhe dedicar uma longa entrevista nesta semana na qual, com apenas quatro dos dez episódios exibidos, atribui a ela o sucesso da série, em detrimento de Zendaya, também muito bem como Rue.

A via-crúcis de estupros, humilhações e automutilação a que Jules é submetida, a despeito do apoio da família, sublinha o contraste doído entre aquilo que queremos ser e o que querem que sejamos.

"Euphoria" não deixa de falar de amor mesmo fora da cartilha do gênero. Essencialmente, amor próprio e a falta dele.

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