Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Luciana Coelho

'El Camino' faz afago a fãs saudosos de 'Breaking Bad' sem mudar história

A ação esparsa é recortada por flashbacks que alimentam a narrativa, e é assim que Walter White ressurge

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Não estraga a surpresa saber que Walter White (Bryan Cranston) surge, mordaz e faceiro, no finzinho de “El Camino”, que a Netflix lançou como sequência de “Breaking Bad” seis anos após seu término. Não há, afinal, surpresa nenhuma no filme.

“El Camino - Um Filme de ‘Breaking Bad’ é muito mais um afago para os fãs daquela que é facilmente defendida como a melhor série deste século do que um desdobramento ou resposta para a história do professor de química transformado em chefão do tráfico de metanfetamina. 

Funciona como rever um amigo de infância, cultivar a nostalgia e voltar cada um a sua vida. Fora o prazer momentâneo, nada muda. Com “Breaking Bad”, essa é uma razão justificável para a continuação —que, com duas horas, não oferece maior risco de desvirtuar o espírito do original. 

É bom revisitar Jesse Pinkman (Aaron Paul), o pupilo de White, Mike (Jonathan Banks), o psicopata Todd (Jesse Plemons) e Jane (Krysten Ritter), a finada namorada de Jesse, na lembrança deste.

Mas o ritmo vago e contemplativo do filme está muito mais próximo ao de “Better Call Saul”, a série derivada de “Breaking Bad” que se apresenta como prefácio da vida criminosa do advogado Saul Goodman (Bob Odenkirk), do que da intrincada ação da criação original de Vince Gilligan. O diretor/roteirista, aliás, é pai das três produções.

“El Camino” parte do ponto onde o sr. White e Jesse nos deixaram em 2013. Como o primeiro está morto, resta acompanhar a fuga do segundo, agora um criminoso caçado pelo país tanto pela polícia quanto por bandidos rivais.

Enquanto para o personagem de Cranston foi reservada a redenção (que no início da saga parecia improvável para o então virtuoso professor), para Jesse sobra o purgatório. 

Para conseguir sua expiação, Jesse passa pelo jugo da quadrilha da qual Todd faz parte, condenado a produzir metanfetamina. São dias de surra, solidão, cela suja e acorrentamento ao laboratório. 

A ação esparsa é recortada por flashbacks que alimentam a narrativa, e é assim que Walter White ressurge, em uma lembrança doce e sarcástica da relação entre os dois —é o melhor diálogo do filme, “Breaking Bad” em estado puro.

O Jesse no qual esbarramos agora também não é um pós-adolescente, e sim um sujeito embrutecido pelos percalços no caminho, pelos quais recebeu muito pouco em troca. 

Ainda assim, é possível vê-lo nos quilos, anos e crimes a mais, terno ao falar com os pais, fascinado por animais.

Paul, cuja escolha para o papel foi tardia, tornou-se um grande ator, e parte do deleite de “El Camino” é sua interpretação contida, que imediatamente estabelece cumplicidade com o espectador que conhece sua história. A participação de Robert Forster, morto recentemente, também resulta em uma das melhores cenas. 

No mais, é saudade.

“El Camino - Um Filme de Breaking Bad” está disponível na Netflix

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.