Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Com Wendy implacável, nova temporada de 'Ozark' dá saudade em fãs de 'Breaking Bad'

Série da Netflix volta após dois anos com ares de faroeste feminino

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Fora das telas, a equipe de “Ozark” sempre tentou minimizar as similaridades entre a produção da Netflix e a genial “Breaking Bad” (2013-18). Já no enredo a sombra da história de Walter White nunca se dissipou.

Depois de uma segunda temporada com rumo e méritos próprios, a trama sobre uma família que lava dinheiro sujo nos cafundós do miolo esquecido dos EUA retoma na temporada que estreia nesta sexta (27) todos os pontos de intersecção com a saga do professor de química convertido em chefão do tráfico de metanfetamina no árido sudoeste americano.

Há, porém, uma sacada. O espelho de Walter White (Bryan Cranston), ao contrário do que parecia até então, nunca foi Martin Byrde (Jason Bateman), o pai de família que omitiu sua atividade principal de mulher e filhos até passar a ser perseguido por um cartel criminoso e se ver desterrado em seu próprio país.

É Wendy Byrde, a executiva/lobista magistralmente vivida por Laura Linney, que assume a trajetória de corrupção de caráter irredimível que já vimos em “Breaking Bad”.

Se não havia ficado claro nos dois primeiros anos, quando os Byrde funcionaram como uma unidade de negócios (sujos) bem sucedida amparada ainda por alguns princípios, na nova fase essa coesão rapidamente se desmantela.

Com Marty reticente em expandir as atividades criminosas da família, é Wendy que toma as rédeas da empreitada, sem se preocupar com os efeitos colaterais, cada vez mais contabilizados em cadáveres.

Há uma cena em um dos episódios iniciais (são dez; a coluna não viu todos para evitar o risco de spoilers) que desenha bem a nova dinâmica: um cassino concorrente é alvo de um acidente grave; possivelmente uma sabotagem. Quando Marty pergunta se há mortos e feridos, se todos estão bem, Wendy interrompe, maquinal: “Quem sabe? e quem liga?”

Linney, indicada e preterida três vezes no Oscar, sempre foi a melhor atriz da série, e de certa forma é ela que continua a sustentar a trama, ladeada pela sutil Janet McTeer como a advogada Helen.

Sim, "Ozark" virou uma espécie de faroeste moderno feminino —os outros vértices do enredo são a garota-prodígio caipira Ruth (Julia Garner) e a fazendeira solitária (e agora viúva) Darlene Snell (Lisa Emery). Nenhuma é flor que se cheire.

A escolha é ousada, dado que raramente séries e filmes trazem mulheres como vilãs metódicas e assertivas, que passem ao largo de sexo, sentimentalismo ou desenvoltura em intriga —até a poderosa Cersei de “Game of Thrones” morria de amores, veja só. Isso, por si, já garante um ar novidadeiro a esse drama, o que é muito bem vindo.

Não que o quarteto central esteja livre de pequenas mesquinharias, mas não são estas as facetas que determinam as ações das personagens. É a dinâmica entre as quatro, na qual os personagens masculinos têm papel importante mas menos decisivo, que move as reviravoltas do enredo, não poucas.

A sacada, contudo, não é suficiente pra segurar a história em seu clímaz. A entrada de novos personagens e o foco excessivo na hiperviolência dos cartéis por trás dos dólares que os Byrde lavam arrasta os episódios e tira parte do impacto que a relação do casal agora de antagonistas produz.

Não é um detalhe que eles estejam batizados como Marty e Wendy, MW, letras que representam o inverso uma da outra e são formadas por altos e baixos agudos. Como, aliás, era o WW de Walter White. As pistas estavam ali desde o começo.

A terceira temporada de “Ozark” está disponível a partir desta sexta (27) na Netflix

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