Luciana Coelho

Secretária-assistente de Redação, foi editora do Núcleo de Cidades, correspondente em Nova York, Genebra e Washington e editora de Mundo.

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Descrição de chapéu Maratona

Tim Burton faz de 'Wandinha' um conto hipnótico para pais e filhos

Disponível na Netflix, série é derivada de 'A Família Addams', que foi uma inspiração para o estilo gótico do cineasta

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Tim Burton é tão peculiar que é possível distinguir, na mesma série, episódios que são dirigidos por ele dos que não são. Faça o teste com "Wandinha", drama/comédia/fantasia/policial que também funciona como romance de formação sobre a primogênita da monstruosa família Addams.

Spoiler, o cineasta que pariu "Edward Mãos de Tesoura", "Os Fantasmas se Divertem" e outros clássicos dirige metade dos oito episódios (a temporada toda vale a pena).

Jenna Ortega e Hunter Doohan em cena da série 'Wandinha', da Netflix
Jenna Ortega e Hunter Doohan em cena da série 'Wandinha', da Netflix - Divulgação

Estão ali o humor sarcástico, os closes em olhos esbugalhados, as cores vibrantes, os movimentos exagerados, a protagonista desajustada —possivelmente o que atraiu o diretor para a empreitada. E, objeto frequente de Burton, os nós da relação entre pais e filhos (ou da ausência dela) compõem o eixo da história.

Sim, a Wandinha da série é uma adolescente que começa a se enxergar no mundo —aqui representado pela portentosa Academia Nunca Mais, que recebe alunos fora dos padrões— após deixar a proteção do ninho familiar.

O que possivelmente é o tema mais explorado na ficção adolescente soa novo graças à mão hábil do cineasta, com sua doçura cáustica tão singular e visualmente explosiva.

Os arquétipos de sempre (a garota popular, o bonitão melancólico, o nerd, a amiga ingênua e deslumbrada, os encrenqueiros) estão ali, mas em "Wandinha" eles são sereias, lobisomens, transmorfos, vampiros e paranormais .

Sem habilidades sobrenaturais na versão original (sua marca é o cinismo e o gosto pela dor), a protagonista ganhou para a série poderes psíquicos como a clarividência.

É por meio deles que ela tenta desvendar o mistério que conduz o enredo, calcado nos assassinatos em série causados por um monstro ou um serial killer (ou ambos). É por meio deles, também, que ela passa a ocupar o lugar que a mãe, Mortícia, ocupou no passado, ao mesmo tempo que tenta desesperadamente dissociar-se da comparação.

A ascendente Jenna Ortega compõe uma Wandinha excepcional, com seu tom monocórdico, suas emoções suprimidas e seus olhos gigantes. Catherine Zeta-Jones, como a mãe, aparece pouco mas o suficiente para fazer frente à Mortícia de Anjelica Huston do filme de 1991 inspirado nos personagens criados por Charles Addams.

A Wandinha daquele filme, aliás, está de volta na série: Christina Ricci encarna uma professora de botânica e mais uma vez uma desajustada —ela é a única "normalzinha" numa escola de monstros.

É, porém, Gwendoline Christie, a Brienne de "Game of Thrones", quem mais atrai atenções como a solitária diretora da Academia Nunca Mais, Larissa Weems, cujo sorriso esconde todo o seu recalque.

O roteiro de Alfred Gough e Miles Millar, os mesmos por trás de outra versão adolescente de um personagem icônico, "Smalville", é hábil o suficiente para atender a crianças, adolescentes e adultos com seus diálogos de piadas certeiras e rápidas, a direção de arte majestosa e a intriga policial bem engendrada.

Os ecos de "Harry Potter", de "Garotas Malvadas" e sobretudo de "Edward, Mãos de Tesoura" (talvez a obra seminal de Burton) não são poucos. Ainda assim, nada perverte a personagem, fiel à sua essência cínica e blasé.

Os oito episódios de ‘Wandinha’ estão disponíveis na Netflix.

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