João Montagu passa horas com o nariz colado na tela do computador. A razão desta devoção é o game Fortnite, um grande sucesso na internet em que o jogador conduz um personagem a encontrar armas, sobreviver a atentados e matar inimigos controlados por outros jogadores. Vence quem restar.

Mas no dia 11 de abril de 2018 os servidores que abrigam Fortnite entraram em pane, e por 24 horas foi impossível jogar. Montagu teve uma ideia para aliviar sua vontade, com uma solução bem a mão: buscou Fortnite como tema de pornografia no site Pornhub.

Ele não foi o único. Durante aquele dia os acessos ao Pornhub aumentaram em 10%, mas também houve aumento em 60% nas buscas de Fortnite como tópico pornográfico. O que é impressionante, considerando os números gigantescos do site. Em 2017 ocorreram, em média, mais de 78 milhões de acessos diários.

As milhões de visitas confirmam que é comum consumir pornografia. Jogar online também. Porém, a sobreposição destas atividades parece ser novidade, ao menos o registro é. E ao que parece, Montagu e outros milhares foram fisgados pelos atraentes apelos virtuais disponíveis na tela de qualquer dispositivo eletrônico. E esse fascínio todo pode ser explicado por duas razões conectadas: o efeito do neurotransmissor dopamina e a tentação causada pelos estímulos supernormais. 

O conceito de estimulo supernormal foi criado pelo vencedor do Nobel de medicina, Nikolaas Tinbergen. Ele provou que estímulos artificiais, se muito realçados, podem ser mais sedutores do que os naturais. Alimentos com muito sal ou muito açúcar são raros na natureza, mas podem ser produzidos artificialmente. Às vezes, são mais atraentes do que alimentos frescos. São, portanto, estímulos supernormais.  

Já as sucessivas conquistas de objetivos, a possibilidade de tornar o personagem mais poderoso, as interações competitivas ou colaborativas com outros jogadores em tempo real, são exemplos de estímulos supernormais oferecidas pelo Fortnite.  E o Pornhub tem também um amplo e óbvio menu de atrações excitantes. 

E esses estímulos turbinados lançam mais dopamina no cérebro, essa é a chave de seu poder. Induzem a um prazer mais intenso e a mais desejo de obtê-lo novamente. 

E o que a dopamina faz?

Ela atua em diferentes áreas cerebrais responsáveis por prazer, aprendizado por reforço, impulsividade, emoções, memória, coordenação de comportamento e busca por recompensa. Quando comemos, bebemos, fazemos sexo ou cumprimos uma missão, a dopamina é liberada e ativa essas áreas com a mensagem “aprendi que isso é bom, e será ótimo repetir”.

Mas existem mecanismos de compensação para que nos saciemos e consigamos mudar de ação, frente ao convite dopaminérgico por buscar repetição. Entretanto esses mecanismos compensatórios são também maiores após o fim do contato com os estímulos supernormais, o que provoca o desconforto da abstinência. 

Jogos e sexo online espalham estímulos supernormais em seus respectivos ambientes, quem os encontram terá prazer e bem-estar, fugazes. Porém corre o risco de ficar absorto e perder o controle do seu tempo. O cérebro condicionado pode entrar no modo vício, e sofrer o desconforto da abstinência.

Assim deve ser Montagu e outros tantos. Eles executaram uma ação compensatória frente à frustração por não jogarem. Algo que pode ter implicações em terapia contra a compulsão por jogos online. Pois a pane de abril pode ter revelado que algumas pessoas, em abstinência forçada, estariam em risco de trocar um vício por outro.

Ou, de forma menos pessimista, que o consumo de pornografia ao aliviar a fissura, poderá equilibrar os anseios de jogares e eventualmente dar uma oportunidade para eles se afastarem do computador.