Luciano Magalhães Melo

Médico neurologista, escreve sobre o cérebro, seus comandos, seus dilemas e as doenças que o afetam.

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Luciano Magalhães Melo

Como as teorias da conspiração nos afetam

Teses sobrevivem, mesmo depois de desmentidas, acrescidas de novas camadas

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Será que você não percebe que há uma nítida conexão entre as ações mentirosas de algumas forças espalhadas pelo mundo? O objetivo: destruir os que pensam diferente e concentrar o poder em torno dos que mentem. Ultimamente, estes inimigos já não acreditam que serão vencidos e nem precisam mais disfarçar suas operações.

Provavelmente você já leu ou ouviu algo parecido a este vulgar blá-blá-blá. E provavelmente acrescidos com mais chavões enaltecedores de uma razão esclarecedora, oposta à outra, malévola, manipuladora e meticulosamente construída.

Simplificar, generalizar ou criar uma falsa erudição são outros substratos retóricos que podem escamotear inverossimilhanças e compor as famosas teorias da conspiração, com suas inconsistências quase que supersticiosas.

Ok, eu sei: conspirações reais existem, elas estão por aí e são tão antigas quanto a humanidade. Está aí o assassinato do general romano Júlio César, vítima de movimento conspiratório idealizado por senadores, seus compatriotas. O militar não anteviu o que estava para ocorrer e não teve chances de defender sua vida. Pois bem, quem identifica um complô, através de pistas consistentes e investigação criteriosa, terá posição vantajosa em qualquer disputa, seja ela épica ou trivial.

Mas ser ansiosamente apegado em identificar planos e se sentir vulnerável às incongruências de seu tempo são traços psicológicos dos que se prendem às teorias da conspiração. Essas teses tendem a satisfazer a necessidade existencial por segurança e controle —satisfação que não será duradoura.  

É difícil ter a sensação de segurança frente à uma ideação repetitiva quase que paranoica. Quem acredita em uma teoria conspiratória acreditará em outras. Pois se uma conspiração pode ser executada com sucesso em quase perfeito sigilo outras ações também poderão.

O pior é que estas teses sobrevivem, mesmo depois de desmentidas. Camadas teóricas são acrescidas para racionalizar erros e discordâncias de seus conceitos. Não importa que essas camadas sejam contraditórias, como bem revelado pelo psicólogo Michael Wood ao demonstrar que algumas pessoas mentalmente harmonizavam a ideia do terrorista Osama Bin Laden estar morto ou vivo.

Esses indivíduos acham que o criminoso morrera muito antes da Casa Branca anunciar a morte dele, oficialmente executada pelas forças armadas dos EUA. Entretanto, para alguns seguidores dessa falácia, o terrorista pode estar são e salvo, escondido em algum lugar.

O raciocínio persistente e harmonizador das contradições possui um centro imutável: créditos à existência de um plano universal ardiloso que mente e desconfiança aos consensos. Com essa forma de ver a vida, a Terra é governada por conspirações e essas explicam qualquer evento —uma visão fechada e unitária, contra qualquer explicação oficial.

Mas honestamente, desconfiar das autoridades não é mau conselho. Mas e o que você, que sabe disso e que mantém o raciocínio crítico na busca por informações confiáveis, tem a ver com isso?

Saiba que as teorias da conspiração também lhe afetam. Elas esvaziam o debate político por nos afastar de questões importantes, ao dar holofotes às ideias mentirosas que são bem usadas por populistas manipuladores. Fazem também mal à saúde por induzirem certos comportamentos, como os presentes no movimento antivacina.

Esses são apenas alguns exemplos da infinidade de malefícios que mentiras bem ou mal elaboradas podem fazer. Por ignorância ou má-fé estas teorias sempre serão produzidas, e oportunistas se valerão delas para sucesso pessoal.

Entretanto fomentar o pensamento analítico pode ser uma forma de reduzir o número de pessoas propensas a acreditar nesses conceitos firmados sobre o nada. Um caminho contra a estupidez e um desafio para educação.

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