Mariliz Pereira Jorge

Jornalista e roteirista de TV.

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Mariliz Pereira Jorge

Me engana que eu gosto

Somos presas fáceis para a propaganda, até a mentirosa

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O boy que promete amor eterno e vai embora depois do orgasmo. O sanduíche tão lindo na foto e amassado dentro da embalagem. A praia paradisíaca, mas cheias de cadeiras de praia de plástico, areia sem espaço, música ruim. A gente acredita em tudo isso e na hora sente-se enganado. Mas não tem nada pior do que propaganda de promoção de loja que coloca um produto lindo no anúncio e, quando você clica, só tem tranqueira.

Lei para andar de patinete, para liberar arma, para mudar o código de trânsito, tem sempre um desocupado para fazer. Lei que proíbe estabelecimentos comerciais de prometerem algo que eles sabem que jamais poderão honrar, cadê uma boa alma pra se engajar nessa luta?

Aquela saia lindona de estampa de oncinha, na promo de até 70%. Você clica e cadê saia? Passa um, dois, trinta produtos e nem o fucinho da onça. Quando se dá conta, já saiu do celular e pulou para o desktop. Vai que a busca fica mais fácil. E sem perceber comprou três camisetas brancas básicas e um pack de meia, para não perder a viagem. Trouxa.

As redes sócias estão recheadas de anúncios. Difícil de escapar. E eles vêm nessa versão 3.0 de “compre batom”, que nos deixa hipnotizados. Você só fez uma pausa do serviço para arejar a cabeça, desliza a tela do celular para dar aquela stalkeada básica nos amigos e famosos e quando percebe está dentro de uma loja virtual que não conhece e não faz ideia se os produtos prestam, se o tamanho 44 só veste uma pessoa 38.

Sempre assim. Não preciso de nada, não tenho dinheiro para nada e quando me dou conta já perdi meia hora vendo coisas de que não preciso que custam um dinheiro que não tenho. Com sorte, encho o carrinho, mas desisto na hora de preencher o formulário. Quase sempre tem uma ficha para nos salvar.

Quase sempre.

Troquei de celular recentemente e, como mágica, apareceram vários aplicativos de lojas, previamente deletados, que já me escravizaram um dia. É o jeito mais fácil de bancar o trouxa, porque o demônio do app já sabe o tamanho do seu pé, da sua bunda e, se duvidar, o seu tipo sanguíneo, além do número do cartão. Num clique, você gasta $ 500 num novo jogo de pratos, num escorredor de macarrão em forma de coração, num abridor de avocado e mais um monte de bugigangas desnecessárias.

Dá sempre para devolver, claro. Mas você se esquece da compra e quando ela chega, vem lindamente embalada em papéis que devem ter consumido parte de uma floresta. Da caixa sai um aroma tão maravilhoso que imediatamente você se sente rico. Já reparou como casa de gente abastada tem sempre um cheirinho delícia? Então, alguém sacou isso e hoje as compras chegam impregnadas com o perfume da riqueza, que faz um escorredor de macarrão em forma de coração mudar seu status social em sua imaginação.

Tem apenas uma cilada na qual ainda não caí. Ainda. Os sites gringos que oferecem vestidos descolados, por precinhos assim, ó, bem pequenininhos. As modelos são sempre lindas e magrelas, daquele tipo que fica bem enrolada em pano de chão. Quem nunca comprou uma roupa pela internet achando que ficaria igual à singela mocinha? Então, você lê os comentários sobre os produtos e só tem reclamação. Da demora da entrega, da péssima qualidade das roupas, do atendimento precário e até do sumiço da grana. Ou seja, cilada. Mas volta e meia eu me pego navegando naquelas páginas sedutoras e mesmo que elas quase pisquem um neon com a palavra “GOLPE”, encho o carrinho e só falta apertar o botão do “comprar” e implorar para ser enganada. Alguém me salva de mim, por favor.

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