É sempre curioso reunir as notícias dos últimos dias.
A polícia do Rio de Janeiro, máquina mortífera, produz mais (pelo menos) 18 cadáveres no Complexo do Alemão.
Winston Ling, filho de imigrante chinês que, fugido do comunismo, introduziu a soja no país nos anos 1950, famoso por ter feito a apresentação do patético Paulo Guedes ao facínora Jair Bolsonaro, emergiu do mundo dos negócios de Hong Kong para dizer em redes sociais que "nós precisamos de mais desigualdade".
A gestão de Pedro Guimarães na Caixa Econômica Federal é roteiro de minissérie.
Além de denúncias de assédio moral e sexual, da bajulação nas lives presidenciais e das artimanhas para integrar inúmeros conselhos de administração de empresas ligadas à estatal, o que lhe proporcionava remuneração milionária, o executivo serviria de inspiração para o "Reizinho" —personagem vivido por Jô Soares no século passado.
A Folha traz relato de que a equipe de produção de "eventos" da Caixa só era autorizada a dirigir palavra ao poderoso Pedro Guimarães se "fosse abordada pelo próprio". Sois rei? Era proibido "rir mais alto do que Guimarães".
Movimento provável é a TV Jovem Pan, refúgio de fascistas temporariamente desocupados, contratar Guimarães para atuar como analista do cenário nacional.
O Brasil perdeu quase 800 bibliotecas públicas entre 2015 e 2020.
O Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos quer investigar equipe médica que realizou aborto legal em jovem vítima de estupro em Santa Catarina.
Repousa na dócil Procuradoria-Geral da República, sem desfecho, a investigação de senador aliado de Bolsonaro surpreendido com dinheiro vivo nas nádegas.
Segundo a Polícia Federal, o comércio ilegal de ouro extraído de terras indígenas movimenta bilhões: candidato a deputado pelo partido de Bolsonaro é investigado.
Para proteção de um dos filhotes suspeitos do presidente, a Receita Federal decretou cem anos de sigilo para papéis relacionados às rachadinhas —o modelo de peculato que a "famiglia" cultuou.
Bolsonaristas lançam fezes contra comícios de Lula. O presidente sorri.
Apoiadores de Marcelo Freixo (PSB), candidato a governador do Rio de Janeiro, são encurralados e ofendidos por marginais a serviço de parlamentar bolsonarista.
O bolsonarista que matou o petista no Paraná é denunciado pelo Ministério Público por homicídio e reconhecido o motivo fútil, as "preferências político-partidárias antagônicas".
O país está tenso. Roberto Carlos perde a paciência com fã que oferecia insistentemente a própria mãe: "Cala a boca, porra!". Jair Bolsonaro convoca embaixadores estrangeiros para disparar mais ameaças de golpe e o Brasil, aparentemente, perde a paciência. "Cala a boca, porra!" é o que todo mundo pensa e ninguém diz.
Segundo o Datafolha, Jair Bolsonaro tinha em junho 28% das intenções de voto.
Apesar de tudo que faz e não faz, da verborragia autoritária e obscurantista, da estupidez sinistra da sua alma, da inépcia profunda e da desonestidade crônica, ele ainda conta com a maioria de votos da parcela mais rica da população e do "empresariado".
A política de compra de votos aprovada pelo Congresso Nacional pode fazer crescer ainda mais a popularidade do caos.
O presidente e a gente que o cerca (militares, executivos, empresários, milicianos e pastores) fazem do Brasil um país ridículo aos olhos do mundo, situado na vanguarda da desconstrução da civilidade e do humanismo.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.