Luiz Horta

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Luiz Horta
Descrição de chapéu

Fique frio com o vinho

Colunista dá dicas de como escolher a melhor bebida para o verão

Vinho branco gelado
Vinho branco gelado - Gabriel Cabral/Folhapress

Escrevi, na coluna passada, sobre a inexistência de "vinhos de verão". Reforço hoje a ideia, esses vinhos são ficção, qualquer vinho pode ser bebido em qualquer época, basta ajustar o ar-condicionado ou evitar o consumo exagerado, pois o que esquenta nosso corpo é o álcool e não a cor do vinho. Claro, há toda uma marquetagem de coisas aberrantes, o vinho de piscina, ou a pedra de gelo na bebida, para citar as duas mais comuns.

Repiso, vinho de piscina é o que você está com vontade de beber, provavelmente sua sede pedirá branco ou espumante, mas nada o impede de sorver um tinto em paz.

Vinho com pedra de gelo faz parecer coquetel, melhor pedir um de vez, o único bem-sucedido levando vinho, na minha opinião e conhecimento, é o Porto branco com água tônica, o Port Tonic. E os que levam vermutes, que afinal são vinhos envelhecidos e temperados com ervas amargas.

O meu "amargo" favorito, o Dubonnet, sumiu do mercado brasileiro, infelizmente. É um ótimo drinque, apenas com gelo e rodela de laranja, e tem uma história curiosa, bem ligada ao calor. Os soldados franceses da Legião Estrangeira tinham que consumir quinino para se proteger da malária nas guerras africanas (lá pelo fim do século 19). Mas, bem machos alfa, recusavam qualquer medicamento. Foi inventado, então, um vinho amargo, bem quinado, por monsieur Joseph Dubonnet, que passou a fazer parte da ração dos militares (com direito a 1 litro por dia). E, assim, eles ingeriam quinino em quantidade, sem que soubessem.

Mais uma curiosidade: uma parte de gim e outra de Dubonnet, gelo e rodela de laranja é o drinque favorito da rainha Elizabeth 2ª. E o era também da rainha-mãe, sendo que a atual soberana toma dois por dia, em horas marcadas, e sua mãe... quantos queria, muitos. Como ela morreu com mais de cem anos, talvez tivesse razão.

Eu não consigo dissociar este período de férias de verão do gesto bem simples de pedir um chope e esquecer do resto, mas se queremos vinho, o que precisamos é ficar de olho na temperatura.

Taças, decantadores, rolha ou tampa de rosca, teor alcoólico, harmonização, tudo que cerca o vinho fica de lado e o que faz a diferença é ele estar na temperatura certa. "Vou ter que comprar um termômetro?", já pergunta o leitor. Não, basta um pouco de bom senso. Se estiver perto da geladeira, pode manter os vinhos lá e ir se servindo, os tintos estarão mais gelados que o necessário, mas logo chegarão à temperatura ideal, na taça (recomendo esquecê-las no verão, use copos americanos, nada pior que o encontro de pés descalços com taças quebradas).

Se tiver um balde de gelo, melhor, pois é portátil. Das dezenas de traquitanas que testei ao longo da vida, duas funcionaram. Uma é um saco de plástico reforçado, que toma a forma retangular quando enchido de água e gelo e vira um balde. Depois de usado, basta jogar a água fora. Usei em piqueniques e é ótimo. A outra é uma cinta, que fica no congelador até o uso, e envolve a garrafa na hora de sair de casa, presa por velcro. Segura a temperatura o tempo suficiente para se esvaziar a garrafa.

Temperatura certa é questão de pele

Quem gosta de vinho quente é Festa Junina, vinho precisa estar sempre frio. Há tabelas longas sobre a temperatura ideal para cada tipo, mas não precisa complicar. O melhor termômetro é a mão, no mesmo estilo tátil que controla mamadeiras.

Errado é estar quente, pois esfriar é mais difícil. Servir o vinho mais gelado, ou errar para baixo, é melhor pois rapidamente esquentará.

A regra é que os espumantes estejam gelados, os brancos que se bebem no calor (penso sempre em Sauvignon  Blanc) também podem estar gelados. Chamo de gelado aquela temperatura da porta da geladeira. Os tintos podem estar um pouco acima, apenas frios, refrescados, um mergulho de minutos no balde de gelo.

Aliás, a geladeira é o ideal, mas o balde de gelo é o mais eficiente. Se for partir do zero, com a garrafa recém-comprada, ainda na temperatura de casa, é mais eficaz colocar na água com gelo (que esfriará em minutos) do que na geladeira, onde precisará de umas horas. É melhor evitar o congelador, quantas garrafas esquecidas não estouraram lá, não?

O balde grande (pode ser de plástico) acolhe todas as garrafas e a mão vai testando o grau de frieza. O espumante pode ficar lá o tempo todo, o branco sai de vez em quando e o tinto dá uma passada veloz e pode ficar fora, uma vez resfriado.

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