Luiz Horta

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Luiz Horta

Dia mundial de comer pato

Todo 21 de março, por uma iniciativa francesa, celebra-se o sabor desse país ao redor do globo

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Luiz Horta

Minha francofilia não é segredo, o que não significa que não coma e beba com gosto coisas de outras origens. Tenho momentos de fixação em algo, a comida chinesa da região de Sichuan, os pasteis de nata portugueses, os vinhos brancos austríacos e alemães.

E volto à França sempre, como referência e zona de conforto, ma sem fazer uma defesa tola de tudo que é francês como superior: a gastronomia independe da geografia, tem muitas outras coisas envolvidas.

Uns anos atrás, o chef multiestrelado Alain Ducasse, com apoio do Ministério das Relações Exteriores em Paris, criou um evento chamado Goût de France (algo como o sabor da França) para divulgar as mesas do país pelo mundo. Conto isso para mostrar como o ato de comer pode ser excelente propaganda e fonte de dinheiro.

Confit de pato servido no restaurante Marcel, com casquinha crocante e molho de laranja
Confit de pato servido no restaurante Marcel - Divulgação

No período em que os espanhóis tomaram a frente da gastronomia, na última década do século 20, os turistas comilões migraram para lá. E turismo é uma das indústrias mais bem exploradas pelos franceses.
Para não ficar longo demais e passar para a mesa, o Goût de France foi um sucesso.

A cada ano, no dia 21 de março, restaurantes com algo francês pelo mundo inteiro celebram este tal sabor especial, ou apenas colocam em destaque algum prato do vasto repertório francês de comida, vinhos, queijos, confeitaria. 

Eu institui como meu dia de comer pato, de prefêrencia o tradicional pato com laranja. A receita ficou muito famosa nos anos 1970 e virou quase um clichê.

Mas clássico é clássico e vice-versa, como brinca o chef Raphael Despirite. E foi para seu restaurante, o Marcel, que fui para o pato anual.

Despirite tem no DNA o avô nascido em Lyon, que fundou o restaurante em 1955. Como não numeram os patos servidos, como um famoso restaurante turístico parisiense, não sabe quantos e de quantas maneiras serviram. Mas o resultado demonstra a intimidade com o bicho, que é confitado na própria gordura, tem a pele crocante, molho com a receita canônica (caldo de laranja, redução do assado, toque de licor de laranja e mostarda).

Na mesma semana, coincidência, conheci uma importadora, a Evino, que me surpreendeu, minha culpa total não ter prestado atenção nela antes, pois tem preços inacreditáveis pela qualidade dos vinhos.

E um estilo bem século 21 de negócio, vende online, os sócios são jovens, animados e perceberam uma coisa que faz décadas se espera: há um consumidor esperando vinhos que possa pagar e que sejam gostosos. Só isso. Que quer simplificação, menos regras, menos gente buzinando na sua orelha sobre taninos e malolática, carvalho esloveno. O que o público quer é ser feliz com um vinho na mão.

Tudo que eu tento dizer sempre, a importadora já passa para os clientes: pode experimentar de tudo, brancos com carne, copo americano em momentos informais, vinho de tampa de rosca, gelo no espumante, você decide, prova e escolhe o que gosta.

Num universo tão esnobe como o mundo dos vinhos no Brasil, deixar as pessoas com menos “nãos” facilita muito o encontro do bebedor com sua garrafa. Acho que eles aproximaram o vinho do estilo francês de beber, em qualquer situação.

No dia do sabor francês, fiquei combinando o pato com quatro vinhos da empresa (estão sugeridos abaixo), em plena alegria de comer e beber bem, quando me lembrei de uma frase muito bonita, do discurso do polemista Alain Finkielkraut, tomando posse na Academia Francesa (a dos imortais de lá).

A citação é sobre este amor à França que é uma escolha: “...a ternura por uma coisa bela, valiosa, frágil e perecível. Descobri que amava a França no dia que tomei consciência que ela também era mortal”.

 A França é bem um país físico, com fronteiras, instituições, rios e montanhas. Mas pode ser este lugar imaginário também, um lugar mental de escolha, meu refúgio em tempos difíceis. Uma paixão mortal, como diz o pensador e que pode ser defendida com uma taça na mão e uma garfo na outra, para que não desapareça.

Vinhos da semana

(1) Ensedune Petit Verdot R$ 47,90.
(2) Marquis de Prada Buzet R$ 44,90.
(3) Gèrard Bertrand Viognier R$ 42,90.
(4) Duc d'Henry Blanc de Blancs brut R$ 32,90. 

* valores de referência

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.