Lygia Maria

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

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Mexeu com duas, mexeu com todas

Ataque a jornalistas mostra como poder público ainda é incapaz de lidar com a liberdade de imprensa

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O jornalismo teve uma semana difícil. Agressão e intimidação de profissionais pelo poder público expõem como ainda somos incapazes de lidar com a liberdade de imprensa.

Um homem moreno, de bigode, usando terno e gravata, está cercado por microfones de jornalistas; a imagem aparece na tela de um celular que grava a cena
O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, fala com jornalistas ao deixar o Palácio do Itamaraty, em Brasília, no encerramento da cúpula sul-americana promovida por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) - Evaristo Sá - 30.mai.23/AFP

Na terça (30), jornalistas foram agredidos por seguranças do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, quando se preparavam para uma entrevista coletiva no Itamaraty. Na confusão, um agente a serviço do GSI desferiu um soco no peito da jornalista Delis Ortis. Trata-se de um barbarismo autoritário comum na ditadura venezuelana, mas inaceitável em qualquer regime democrático.

No dia seguinte, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, intimidou publicamente a jornalista Malu Gaspar. Em postagem no Twitter, acusou Gaspar de inventar informações e atribuí-las a fontes da empresa. De modo infantil e destemperado, riscou digitalmente, em letras vermelhas garrafais, a palavra "fake" no print da notícia que o desagradou.

Jornalistas trabalham com fontes que, por lei, podem ser mantidas anônimas. Além disso, Gaspar tem trabalho reconhecido e de longa data na cobertura jornalística da Petrobras. Se informações sobre um novo escândalo de corrupção envolvendo a empresa vazarem, profissionais de imprensa deveriam esperar que a direção confirme o crime para poderem noticiar?

Prates demonstrou ignorância sobre a atividade jornalística e o papel primordial que ela exerce na fiscalização do poder público. Ademais, e mais preocupante, escancarou autoritarismo ao intimidar a profissional. Se um órgão público discorda de uma informação, há meios mais elegantes e republicanos para divulgar descontentamento —através das assessorias de imprensa que mantêm contato com jornais, por exemplo.

Curiosamente, duas mulheres. Um dos motes do feminismo é "Mexeu com uma, mexeu com todas". Na última semana, mexeram com duas. Mas, ao contrário do que aconteceria se estivéssemos sob Jair Bolsonaro (PL), nem todas se afetaram.

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