Chegamos a 2024 e é preciso dar "parabéns às drogas, que, por mais um ano, venceram a guerra às drogas". O chiste, famoso nas redes sociais, expõe a cegueira de legisladores sobre a falência da política global direcionada ao uso de substâncias psicoativas —algumas delas, claro, já que outras são vendidas livremente ou a partir de receitas médicas.
Os humanos do futuro olharão para nossa relação com as drogas e vão perguntar como podemos ter sido tão estúpidos. Isso porque criamos o problema e persistimos nele.
Alterar a própria consciência é um ímpeto ancestral do homo sapiens, que vai do vinho na Roma Antiga, do ayahuasca em rituais na Amazônia, passando pelo LSD dos hippies até o ecstasy em festas de música eletrônica. Já deveríamos ter entendido que qualquer tentativa de eliminar substâncias psicoativas das relações sociais estaria fadada ao fracasso.
Mesmo assim, escolhemos banir algumas drogas a partir do começo do século 20 e inventar uma guerra a partir dos anos 1970. Montanhas de dinheiro público investido e toneladas de drogas apreendidas depois, não eliminamos nenhuma delas, não diminuímos o consumo e ainda geramos violência e mortes com facções criminosas do narcotráfico.
Para piorar, aumentamos a potência das substâncias, segundo a chamada "Iron Law of Prohibition" (ou lei férrea da proibição, em tradução livre). A criminalização eleva o risco do mercado, o que estimula a comercialização de formas de apresentação mais concentradas e potentes das drogas, que ocupam menos espaço em armazenamento e transporte, além de serem vendidas por preços mais altos.
Pesquisas mostram esse efeito durante a Lei Seca, com alta no consumo de destilados em relação a fermentados, na transição do ópio para a heroína e no surgimento de variedades mais potentes de maconha.
A humanidade já está há meio século imersa numa alucinação coletiva e, pelo visto, por muitos anos ainda vamos parabenizar as drogas pela sua vitória nessa guerra insana.
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