Lygia Maria

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

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Identidade e liberdade

Novo livro de Antonio Risério expõe faceta autoritária do identitarismo, que mina pilares da democracia liberal

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Em janeiro de 2022, o antropólogo baiano Antonio Risério publicou um artigo na Folha que abordava o traço racista do movimento identitário, a partir de casos de ataques de negros contra brancos e outras etnias. Por isso, foi alvo de linchamento virtual, com ameaças até mesmo à sua integridade física.

A crítica violenta não refutou argumentos e fatos dispostos no texto. No geral se resumiu a chamar seu autor e o jornal de racistas e a indicar que Risério é branco. Quem apontou o preconceito da crítica também virou alvo —como Wilson Gomes, professor da UFBA, que foi chamado de "preto de estimação da Casa-Grande" nas redes sociais.

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Militantes do movimento negro fazem ato na praça dos Três Poderes, em Brasília, em defesa dos negros e contra a violência racial no Brasil - Pedro Ladeira/Folhapress

Ou seja, a realidade demonstrou o racismo identitário e escancarou de vez a faceta tirânica do movimento que não tolera dissenso.

Passados dois anos, o autor lança agora o livro "Identitarismo", no qual faz uma genealogia desse ideário, que surge como um fenômeno acadêmico nos campi dos EUA, principalmente, e também da Europa.

O identitarismo é uma resposta da esquerda ao vácuo deixado pelo colapso da URSS e à globalização, que propiciou a crise das identidades nacionais. Recuperou-se o mofado conceito de "identidade monolítica", não mais focado no indivíduo, e sim em grupos. Em vez de múltiplas identidades, só a étnica e a de gênero, "como se apenas elas fossem possíveis —e, pior, determinassem rigorosamente o nosso destino".

Risério mostra como a perspectiva chegou ao Brasil e, atualmente, domina cursos de humanas e se espraia pela sociedade a partir da mídia.

Ainda mais importante, a obra revela como as boas intenções do movimento escondem seu autoritarismo, aspecto nefasto que mina pilares das democracias liberais.

Ao tratar hipóteses como dogmas, o identitarismo censura e trava o debate público. Não à toa, Risério conclui o livro com um convite à liberdade de pensamento: "Diante de tanto dogmatismo sectário, penso que bem poderíamos fazer uma campanha mundial em favor da dúvida".

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