Lygia Maria

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP.

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Samba do militante doido

Misturar guerra em Gaza com educação no Paraná serve apenas a delírios ideológicos, não à realidade dos cidadãos

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A militância política atualmente lembra aquele cliente no bufê por quilo que coloca sushi e feijoada no prato. Como o cartaz de uma manifestante durante protestos nos EUA: "Climate justice means free Palestine". O que o efeito estufa tem a ver com a opressão em Gaza? Talvez o cara do bufê consiga explicar.

No Brasil não é diferente. Afinal, somos o país da bricolagem, da pizza de estrogonofe, do vira-lata caramelo e do carnaval, nosso amálgama máximo. Como o satírico "Samba do crioulo doido", composto por Stanislaw Ponte Preta em 1966, no qual Chica da Silva obriga a Princesa Leopoldina a se casar com Tiradentes, que vira D. Pedro Segundo e faz amizade com José de Anchieta.

Manifestante levanta cartaz em que diz: "Educação não é mercadoria"
Manifestantes foram às galerias da Assembleia Legislativa do Paraná, na terça-feira (4), protestar contra projeto de lei que terceiriza a gestão administrativa de escolas - Divulgação/Alep

"O que o genocídio na Palestina tem a ver com o ataque à educação no Paraná? Absolutamente tudo", proferiu um deputado do PT no contexto da aprovação de um projeto que transfere a administração de escolas estaduais a empresas privadas.

A oposição é salutar na democracia. Pelo confronto de ideias e fatos, é possível escolher políticas mais eficientes em prol dos contribuintes.

Mas discursos disparatados apenas minam o debate público para o proselitismo ideológico. Quem discorda do projeto deve demonstrar por que ele é prejudicial.

Em primeiro lugar, não se trata de privatização, mas de Parceria Público-Privada (PPP), mecanismo que vigora em outros setores, como saúde e infraestrutura. As empresas serão responsáveis pela gestão administrativa, não pelo currículo escolar.

Ademais, o programa tem aspectos similares aos das escolas charter americanas, que foram analisadas pela Universidade Stanford. Segundo o estudo, divulgado em 2023, alunos das charter apresentaram desempenho um pouco acima daqueles de escolas públicas tradicionais, ainda mais acentuado em estudantes negros, hispânicos e de baixa renda.

Não se quer dizer que escolas com PPP sejam panaceia, mas que merecem debate sensato. O samba do militante doido serve a delírios ideológicos, não à realidade dos cidadãos.

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