Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Manuela Cantuária
Descrição de chapéu

É possível curtir a folia sem perder a consciência política

Se você ainda não decidiu sua fantasia, não se preocupe, nunca tivemos tanta inspiração como agora

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Estamos naquela época do ano em que algumas pessoas tiram do pano de guardar confetes o velho discurso de que o Carnaval é o ópio do povo. Esse papo é mais extenuante do que os quatro dias de festa ininterrupta que se aproximam.

Quem ainda acha que Carnaval é alienação provavelmente não ouviu a última safra de sambas-enredo do grupo especial do Rio de Janeiro e não acompanhou a evolução das fantasias do Carnaval de rua, por exemplo.

Ilustração de rosto da Regina Duarte jovem com o contorno e o espaço dos olhos pontilhados, como se fosse um máscara de papel para ser recortada. O fundo é verde com bolinhas brancas, azuis e amarelas.
Silvis/Folhapress

Para provar que é possível curtir a folia sem perder a consciência (política), a coluna relembra algumas tendências da moda carnavalesca ao longo dos últimos cinco anos.

O ano de 2015 não foi só o ano em que Nestor Cerveró proibiu a comercialização de máscaras com o seu rosto. Ele também marcou o início da problematização das fantasias. Começam a sair de cena as de índio (para início de conversa, o termo correto seria indígena), “Iemanjete” (Iemanjá em versão piriguete) e Nega Maluca. Por outro lado, a Branca Maluca  —com peruca loira, camiseta da CBF e panela— mostra sua força nas ruas.

Em 2016, a temática da Lava Jato, marcada pela presença de personagens como o Japonês da Federal, disputou espaço com críticas ao então presidente da República. Destaque para a fantasia de vice decorativo —era só vestir uma máscara do Temer e caprichar nos adereços e na mesóclise.

O ano de 2017 pode ser considerado o da “bela, recatada e do lar”, ou ainda o d’A Grande Festa Dos Mamilos Femininos. Seios à mostra, que não são exatamente uma novidade no Sambódromo, agora ganham as ruas com nova roupagem, sem a camada da hipersexualização.

Apesar de ter sido invadido por unicórnios, o carnaval de rua de 2018 também foi palco de homenagens póstumas à CLT e teve forte influência da tríplice epidemia de zika, chikungunya e dengue, que contagiou as multidões.

O ano de 2019 veio para comprovar a teoria de que quanto pior o ano, melhor o Carnaval. As fantasias de Barbie fascista, fantasma do comunismo, kit gay, golden shower e o hit absoluto laranja do PSL foram um show à parte.

No pré-Carnaval de 2020, chegam com tudo a Empregada Doméstica na Disney, inspirada em declaração do ministro da Economia, e a Rainha da Sucata, uma alusão direta à nova secretária de Cultura. Se você ainda não decidiu sua fantasia, não se preocupe. Nunca tivemos tanta inspiração como agora.

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