Eloara abotoa seu sutiã bege sem costura, esgarçado e com uma manchinha de gordura que parece um terceiro mamilo. Joga um moletom GG por cima e, agora sim, está pronta para a guerra. Uma guerra declarada pela ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Uma guerra contra a libido adolescente.
Estamos falando de mais uma jovem cheia de sonhos (molhados) que calhou de atravessar a via-crúcis da adolescência no Brasil de 2020. Eloara é o público-alvo de uma política que visa diminuir os índices de gravidez precoce, incentivando a abstinência sexual.
Para a ministra Damares Alves, a abstinência é o único método contraceptivo 100% eficaz. O argumento não tem embasamento científico e esse fato, por si só, já garante seu Selo Governo Bolsonaro de Qualidade. Não se sabe de onde ela tirou essa ideia. Da Bíblia, seu livro de cabeceira, certamente não foi.
Afinal, Maria escolheu esperar e acabou esperando um filho do mesmo jeito.
As ações da campanha ainda não foram divulgadas, mas se presume que o próximo passo é a distribuição do Kit Celibato nas escolas, com cinto de castidade, jogos de tabuleiro, lingerie bege, cuecas estampadas do Smilinguido e amostras grátis de fraldas sujas para a conscientização dos jovens.
Quando sua turma foi obrigada a assistir a uma palestra sobre “preservação sexual”, Eloara imaginou que teria de colocar uma camisinha em uma banana sob risinhos jocosos dos colegas ou coisa do tipo.
Mas foi muito pior. O palestrante afirmou que o preservativo de látex tem poros que possibilitam a transmissão do HIV —outra teoria furada disseminada em Brasília. Eloara voltou para casa convencida pela ideia de que o sexo na adolescência não compensa.
Era como se seu corpo fosse uma festa rave de hormônios sem alvará da prefeitura. Prometeu a si mesma que os DJs Estrogênio, Progesterona e Testosterona não comandariam mais a pista de dança. Substituiu o sexo por outras prioridades, como cancelar pessoas no Twitter, passar vergonha no TikTok e futucar suas espinhas.
Assim como Jesus na goiabeira, Eloara só existe nos delírios da ministra.
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