Manuela Cantuária

Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais

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Manuela Cantuária

Sanha genocida de Bolsonaro provoca o travamento de todos durante a pandemia

Em tempo de home office, não é somente a internet que pode apresentar instabilidade

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“Você está mutado.” Se você já ouviu essa frase pelo menos três vezes só nesta semana, então você é parte de uma fatia privilegiada —e nem por isso radiante— da classe trabalhadora: os home officers, aqueles que agora exercem suas funções remotamente.

Após um ano de imersão em uma rotina massacrante de reuniões virtuais, já podemos admitir que uma nova linguagem foi forjada nesses ambientes, e muito do que é dito ali carrega um significado oculto que pode passar despercebido.

Ilustração de uma mulher sentada na frente de um monitor grande com uma webcam em cima dele, as mãos no teclado e um mouse do lado esquerdo. Uma chamada de vídeo está ativa com 6 espaços, 5 estão com X e apenas ela está com a câmera ligada.
Silvis/Folhapress

“Você está mutado”, por exemplo, vai muito além daquilo que se ouve. Ou não se ouve. É um chamado para reflexão. Antes de ligar o microfone e repetir o que acabou de dizer, experimente repensar suas palavras. Talvez você tenha sido agraciado com uma bênção em formato de embaraço tecnológico. Aproveite, pois na “vida real” você jamais teria essa segunda chance.

“Desculpe o atraso, eu estava no link errado” é “o motorista de Uber se perdeu” dos home officers. A mais efetiva desculpa por ter se atrasado para uma reunião. A ideia é dizer que entrou em uma sala extraviada e ficou lá, sozinho, esperando por alguns minutos sem fim. Dessa forma você se isenta de culpa e ainda comove seu interlocutor, que, provavelmente, também já passou por isso.

Convenhamos, não existe solidão pior do que padecer no link errado. O microfone está ligado, mas ninguém está lá para ouvir. A câmera está filmando, mas ninguém está lá para ver. É você com você mesmo. E nada mais. Nada acontece, nada vai acontecer. Uma sensação parecida com a de ser enterrado vivo, talvez? Não sei, só sei que a desculpa funciona.

“Minha internet caiu”: Ainda na categoria de desculpas infalíveis, o inesperado retorno desse hit dos anos 2000, proveniente dos tempos da internet discada, quando era muito usada para encerrar conversas abruptamente. Ainda não é de bom tom usá-la em aplicativos de mensagens mas, em videoconferências, que consomem uma boa largura de banda, pode ser a deixa perfeita.

“Você está travando.” Quanto significado em um comentário aparentemente inocente sobre a instabilidade da nossa rede. Será que é só a internet que está instável? É claro que estamos travando. Acompanhamos as notícias, os obituários, a sanha genocida do presidente. Como não travar, quando metas e mortes se acumulam?

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