“Bom dia, turma. Ainda estou corrigindo as provas. Não vou mentir para vocês, muita gente não foi bem, muitos problemas de interpretação. Vamos ter que fazer uma revisão hoje. Vocês já estão com a bibliografia, certo? Todo mundo abrindo o WhatsApp.”
“Começando logo com a pegadinha. A Revolução de 2021, que vocês insistem em chamar de golpe. Eu encaminhei para vocês uma montagem feita no Paint com tudo resumidinho. Basicamente, é uma convocação para as manifestações do 7 de setembro, com uma foto de Bolsonaro acompanhada da frase ‘EU AUTORIZO’. Alguém sabe o que isso significa?”
Uma aluna levanta a mão: “Que a estética bolsonarista é tão desconcertante que deixou a população paralisada de constrangimento diante das constantes ameaças à democracia?”.
“Já falei que não quero ninguém falando nesses termos na minha aula. A partir de agora, quem usar as palavras ‘democracia’, ‘golpe’, ‘genocídio’, ‘rachadinha’ e ‘CPI da Covid’ perde ponto na média. Voltando ao que interessa. A imagem significa que o presidente tinha o apoio popular.”
“Mas, professor, o índice de rejeição dele na época era de 51%, segundo as pesquisas.”
“Vocês não podem sair acreditando assim em dados levantados por institutos de estatísticas. A questão sobre a Revolução de 1964 também foi uma tragédia, fico me perguntando de onde vocês tiram tanta besteira.”
“Professor, o meu bisavô foi preso, torturado e precisou fugir do país em 1968.”
“E como que o seu bisavô explica esse meme da ‘ditabranda’ aqui?”
“Ele não sabe o que é meme.”
“E você confia em uma pessoa que não sabe nem o que é um meme? Encaminha para ele essa mensagem de áudio do Eliezer, sogro da minha prima de Paracambi, dizendo que na época da ditadura, não havia corrupção e… Ei, mocinha. O que você está olhando aí debaixo da carteira? Por acaso é um livro de história? Eu já falei que é proibido esse tipo de distração na minha aula. Que desrespeito. Vamos fazer o seguinte, já que vocês são tão espertos, vou passar um teste surpresa para vocês.”
“Poxa, professor, a gente acabou de fazer prova… Pode consulta, pelo menos?”
“Tá, pode ser. Mas só no grupo Taxistas Unidos Jamais Serão Vencidos no Facebook. Tá tudo lá mastigado pra vocês. Valendo!”
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