Mara Gama

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Mara Gama

Desmatamento zero do Cerrado é reivindicação aos presidenciáveis

Organizações de defesa lançam manifesto com recomendações para estancar destruição

Vista do cerrado baiano em Correntina, oeste do estado
Vista do cerrado baiano em Correntina, no oeste do estado - Avener Prado/Folhapress

Frear o desmatamento do Cerrado é a mais urgente e importante recomendação de um documento formulado por organizações de defesa do bioma aos candidatos à Presidência. Bioma é considerado grande reserva da biodiversidade, com 30% das espécies do país e 5% do mundo.

Com o título “Desenvolvimento Socioeconômico Responsável, Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade, Redução do Desmatamento e Restauração da Vegetação Nativa”, foi lançado em evento da Frente Ambientalista na Câmara, em Brasília, no último dia 4.

O manifesto traz 27 propostas para a conservação do bioma Representantes da Rede, do PT, do Psol e do PDT estiveram no lançamento. “O Código Florestal já estabelece um limite de 50% e já estamos com apenas 50% no bioma. É urgente conseguir o desmatamento zero”, afirma Kátia Favilla, da Rede Cerrado, uma das organizações signatárias do documento. “

Precisamos frear a conversão do Cerrado para a produção agrícola. É fundamental tornar produtivas as áreas já ocupadas e parar de avançar sobre as áreas que precisam ser conservadas. Isso seria desenvolver com responsabilidade”, diz Kátia.

A pressão para desmatar vem principalmente das culturas da soja e do milho, nas áreas do Matopiba – os Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia - e do Mato Grosso. Além desses Estados, o Cerrado também abrange áreas de Goías, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Rondônia, Paraná e Distrito Federal, além de encraves no Amapá, Roraima e Amazonas.

“O sistema fundiário da região é frágil e as grandes propriedades avançam com essas culturas”, diz. Para a conservação do bioma, afirma, é preciso também garantir políticas públicas para proteger os povos que são responsáveis pela preservação.“

O uso da terra do Cerrado sem ações sustentáveis já tem reflexo na oferta da água doce limpa que alimenta oito das 12 regiões hidrográficas do Brasil (Amazonas, Tocantins-Araguaia, Nordeste do Atlântico Ocidental, Parnaíba, São Francisco, Atlântico Leste, Paraná, Paraguai).

Houve a diminuição da vazão em rios e a modificação do ciclo das chuvas, provocando crises de disponibilidade da água para irrigação, abastecimento humano e animal, industrial, geração de energia, mineração, aquicultura, navegação, turismo e lazer, além de prejudicar a produtividade agrícola em muitas partes do bioma”, diz o documento.

No próximo dia 11, em que se comemora o dia do Cerrado, um seminário na Câmara vai debater os itens do documento, que está organizado em três eixos estratégicos: políticas e ações para conservação e uso sustentável da biodiversidade, redução do desmatamento e promoção do agroextrativismo.

No primeiro eixo, o documento faz nove recomendações para fortalecer políticas de conservação e uso sustentável da biodiversidade, como aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que coloca o Cerrado e a Caatinga como patrimônios nacionais e alcançar a meta de proteger pelo menos 17% do bioma.

O Cerrado é a savana mais rica em biodiversidade do mundo, com 5% de todas as espécies de plantas e animais do planeta. É o segundo maior bioma da América do Sul, com área de  2.036.448 km2, cerca de 22% do território nacional, com as nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul - Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata.

O segundo eixo tem também nove recomendações para uma política de redução do desmatamento e restauração da vegetação nativa, com propostas para a construção de uma “agropecuária responsável”, com financiamento para investimentos em áreas já abertas, valorizando  proprietários que têm excedente de Reserva Legal e se comprometem a não desmatar.

O terceiro eixo trata do agroextrativismo. O documento considera que a presença e modos de vida dos povos indígenas e de povos e comunidades tradicionais no Cerrado são fundamentais para a conservação e a manutenção dos serviços ecossistêmicos. Entre as recomendações estão retirar “entraves regulatórios” sanitários e fiscais para a produção e a comercialização de produtos.

Participaram da confecção do documento o Instituto Centro de Vida (ICV), Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Instituto Socioambiental (ISA), Rede Cerrado e WWF-Brasil, com a colaboração de mais 13 organizações.A ideia é que o documento chegue também aos candidatos aos governos dos estados do Cerrado.

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