Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Marcelo Viana

Mega-Sena ilustra os mistérios do acaso

Sorteio recente em que todas as dezenas sorteadas começavam com 5 provocou surpresa

De todas as áreas da matemática, a probabilidade é a que mais desafia a nossa intuição. Como pode a ciência da exatidão lidar com a incerteza? 

Os primeiros avanços motivados por jogos de azar remontam aos séculos 16 e 17, mas a teoria só se consolidou no século 20, com os trabalhos do grande matemático soviético Andrey Kolmogorov (1903-1987).

A matemática da probabilidade baseia-se no fato de que, mesmo quando o resultado é incerto, muitas coisas interessantes podem ser ditas se o experimento for repetido muitas vezes. 

Pessoa preenche jogo da Mega-Sena
Pessoa preenche jogo da Mega-Sena - Bruno Santos/ Folhapress

Quando lançamos uma moeda não há como sabermos qual face vai dar. Mas pode estar certo de que se fizer isso mil vezes ou mais haverá pelo menos 49% de caras e 49% de coroas. 

Tudo isso vem a propósito do resultado peculiar da Mega-Sena desta semana: as seis dezenas sorteadas começam com o dígito 5. Mas será que isso é tão surpreendente quanto parece?

Existem 50.063.860 combinações na Mega-Sena e todas são igualmente prováveis: a chance de sair 50, 51, 56, 57, 58, 59, como aconteceu, é exatamente a mesma de qualquer combinação “sem graça”. 

Além disso, são 1.134 combinações em que as seis dezenas começam com o mesmo dígito. Com isso, tal resultado tem probabilidade de 0,0023%, ou seja, ele deverá ocorrer uma vez a cada 44.184 sorteios.

Resumindo, um resultado assim aconteceria mais cedo ou mais tarde —o que não impede de ficarmos surpresos a cada vez. Mas é inusitado que tenha sido tão cedo: até hoje houve apenas cerca de 2 mil sorteios da Mega-Sena.

Há uma piada do passageiro que morre de medo de atentado à bomba. Para se prevenir, ele sempre embarca com uma bomba na mala: “a probabilidade de haver duas bombas no mesmo avião é baixíssima!”, justifica.

Qual é o erro desse raciocínio? Respostas são bem-vindas pelo email viana.folhasp@gmail.com.

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