Na virada do ano 1000, a península Ibérica era a região mais vibrante e avançada da Europa, entreposto do longínquo Oriente na ponta mais ocidental do continente.
Quase três séculos antes, em 711, Tárique, governador muçulmano da atual Tunísia, desembarcou na costa sul com um pequeno exército árabe e berbere. A monarquia visigótica cai: o rei Rodrigo morre na batalha de Guadalete e, em cinco anos, os invasores ocupam a península. A antiga Hispânia dos romanos torna-se al-Andalus, província do império governado pelos sucessores do profeta Maomé, os califas Omíadas de Damasco.
A reação cristã não se faz esperar. Em 722, o chefe Pelágio venceu um contingente muçulmano na batalha de Covadonga, que será tomada como início da Reconquista e ato fundador do reino cristão das Astúrias. Dele vão nascer Galiza, Leão e, mais tarde, Castela e Portugal. No nordeste da península, Aragão, Navarra e Barcelona estão também sob a influência do reino dos francos.
Em 750, um golpe de estado substitui os Omíadas pelos Abássidas, que transferem a sede do califado para Bagdá. Todos os membros da família Omíada são mortos, menos um: o príncipe Abd al-Rahmán cruza os 5.000 km entre a Síria e o Marrocos, e em 756 chega a al-Andalus, que transforma num emirado independente do califado Abássida.
Em 929, seu descendente Abd al-Rahmán 3º se autoproclama califa, em igualdade com o governante de Bagdá. Sua capital, Córdova, é a cidade mais próspera da Europa, rivalizando com Constantinopla e Bagdá pelo brilho de sua ciência, cultura e arte. Data do seu reino a construção da mesquita (hoje catedral) de Córdova, fusão das culturas islâmica e cristã.
Ao final desse século, al-Andalus ocupa mais de dois terços da Península, e o califa tem a proeminência entre os monarcas da região, sendo chamado a arbitrar disputas entre os reinos cristãos. Mas as disputas políticas e a inépcia de alguns califas vão precipitar a queda do regime, que deixa oficialmente de existir em 1031. Al-Andalus entra no período dos reinos de taifas, pequenos domínios que guerreiam mutuamente entre si e contra os reinos cristãos a norte.
Mas a fragmentação política não reduz o brilho da civilização islâmica, pois os diferentes senhores se disputam para atrair a suas cortes os maiores talentos do seu tempo. Entre eles, está um brilhante matemático e astrônomo: Abu Ishaq Ibrahim al-Zarqali. Falarei dele na próxima semana.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.