Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Fitzroy e Richardson, pioneiros da previsão do tempo

Matemático Lewis Fry Richardson teve papel pioneiro na modelagem matemática e ajudou a resgatar ciência da meteorologia no início do século 20

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Um leitor sugeriu que eu escrevesse sobre o matemático britânico Lewis Fry Richardson (1881–1953). Eu conhecia o nome: no meu livro de equações diferenciais menciono a “extrapolação de Richardson”, uma técnica sagaz para melhorar a precisão da solução da equação sem tornar o cálculo mais complicado. Mas isso era tudo o que eu sabia sobre o sujeito.

Uma pesquisa revelou que de fato se trata de uma figura muito interessante, com uma trajetória singular e contribuições fundamentais em pelo menos dois domínios: previsão do tempo e modelagem da guerra.

A previsão regular do tempo teve início na década de 1850, sob o impulso do vice-almirante Robert Fitzroy (1805–1865) da Marinha britânica. Fitzroy não era um marujo qualquer: foi o capitão do navio HMS Beagle na famosa viagem que inspirou o naturalista Charles Darwin a desenvolver a Teoria da Evolução.

Já aposentado, chocado com a tempestade do Royal Charter, que causou mais de 800 mortes por naufrágio em 1859, Fitzroy liderou a criação de uma rede de estações meteorológicas ao longo da costa que telegrafavam suas observações em tempo real para o escritório central em Londres. A partir desses dados, Fitzroy fazia o que chamou de “previsões do tempo”, um conceito chocante para uma época em que o tempo meteorológico era considerado um ato da imperscrutável vontade divina.

A primeira previsão do tempo foi em 31 de julho de 1861 e estava certa. Mas, apesar de todo o seu afinco, Fitzroy também errava: previa mau tempo que não acontecia, irritando pescadores impedidos à toa de trabalharem; e deixava passar tempestades que realmente aconteciam, pondo em causa a utilidade de todo o esforço. Deprimido pelas críticas a seus insucessos, e por suas dificuldades financeiras, Fitzroy acabou tirando a própria vida.

A ciência da meteorologia, que a essa altura parecia definitivamente condenada, foi salva por avanços em duas frentes: a modelagem matemática e a computação científica. Lewis Fry Richardson teve papel pioneiro em ambas.

Richardson era pacifista por convicção religiosa, mas participou na 1a Guerra Mundial como voluntário, dirigindo uma ambulância por três anos. Nas longas horas de espera nas trincheiras francesas, distraía a mente (e preservava a sanidade mental) refletindo sobre como melhorar as previsões do tempo. No livro “Previsão do tempo por processo numérico”, publicado em 1922, lançou as bases da meteorologia moderna. Continuarei na semana que vem.

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