Marcelo Viana

Diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.

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Marcelo Viana

Em busca do planeta perdido

Até os mais brilhantes astrônomos deram passos em falso no caminho do conhecimento

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No espaço de dois séculos, os trabalhos de Nicolau Copérnico (1473–1543), Giordano Bruno (1548–1600), Galileu Galilei (1564–1642) e Johannes Kepler (1571–1630) revolucionaram a nossa visão do universo, postulando que os planetas, inclusive a Terra, se movem em torno do Sol, e eliminando o protagonismo do nosso planeta.

Mas muitas questões permaneceram misteriosas no que diz respeito à existência e comportamento dos planetas conhecidos na época: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno. Nisso até os mais brilhantes astrônomos deram passos em falso, como acontece com frequência com aqueles que trabalham na fronteira do conhecimento.

Concepção artística do Sistema Solar, com planeta Terra em primeiro plano e Sol ao fundo
Sistema Solar - ESO/AFP

Kepler acreditava que a existência de cinco planetas, além da Terra, estaria ligada ao fato de existirem exatamente cinco sólidos platônicos: tetraedro, cubo, octaedro, dodecaedro e icosaedro. A descoberta de Urano, por William Herschel (1738–1822) em 1781, deu um golpe de morte nesse belo modelo kepleriano.

Outra ideia controversa foi proposta pelos alemães Johan Titius (1729–1796) e Johann Bode (1747–1826): os raios das órbitas dos planetas estariam na mesma proporção que uma certa sequência de números dada por uma regra matemática precisa: 0,4 (Mercúrio), 0,7 (Vênus), 1,0 (Terra), 1,6 (Marte), 2,8 (??), 5,2 (Júpiter) e 10,0 (Saturno).

A aproximação é bastante boa, inclusive para o planeta Urano que só seria descoberto depois. Mas, para validar a lei de Titius-Bode seria preciso encontrar um planeta entre Marte e Júpiter com órbita 2,8 vezes maior do que a da Terra. Foi criado um grupo de 24 astrônomos renomados, intitulado Polícia Celestial, para buscar tal planeta.

Em 1 de janeiro de 1801, o italiano Giuseppe Piazzi (1746–1826) observou um corpo celeste móvel que lhe pareceu "algo melhor do que um cometa", e a que deu o nome da deusa Ceres. Quando os astrônomos perderam a posição do astro, a situação foi salva pelo grande Carl Friedrich Gauss (1777–1855), com apenas 24 anos, que desenvolveu um método preciso de cálculo da trajetória para reencontrar Ceres no céu.

A órbita de Ceres estava bem próxima da previsão de Titius–Bode, mas o novo astro era pequeno demais para ser tomado a sério como planeta. Foi chamado de asteroide e atualmente é considerado um planeta anão. Com a descoberta de Netuno, a lei de Titius-Bode ficou desacreditada, e atualmente é considerada apenas uma coincidência sem fundamento científico.

Erramos: o texto foi alterado

O texto apontava duas vezes o ​"icosaedro" entre os cinco sólidos platônicos. O correto seria o "octaedro" no lugar da primeira menção. 

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